De: Augusto Küttner de Magalhães - "O Palácio de Cristal"
Sendo mais que evidente que o palácio já não existe e vê-se, só por fora, um grande cogumelo que se implantou – implantaram – no lugar daquele, que de momento está a aguardar vir a ser útil, nomeadamente, ao que parece, como um possível novo recinto de muitas exposições. Já teve de resto essa utilidade e também já serviu para albergar Circos, Feiras do Livro e jogos vários. Mas talvez seja de nos deixarmos abraçar pela sua envolvente, que é muito singular, com uns bonitos e bem tratados jardins, com as suas ruelas, as suas árvores, arbustos e flores, e com uma vista soberba sobe o Rio Douro, até à Foz, sendo possível ver/tocar! a Ponte da Arrábida e do outro lado a zona das Caves do Vinho do Porto em Gaia. Se por certo desse mesmo local é deveras agradável olhar o Porto Antigo, sem dúvida que deste dos Jardins do Palácio de Cristal, também é excelente para lá olhar. Talvez nos tenhamos que um pouco abstrair de uns grande novos prédios – iguais em todo o lado – que se vão vendo mais atrás, lá em Gaia, novos, mas se nos focarmos a olhar para a parte histórica, para o antigo, é diferente, é agradável. Podemos ver passar no rio barcos, de vários tamanhos, das empresas que se dedicam a passeios de turistas internos e externos, sobem e descem o rio. Tudo aqui tão perto. Podemos ainda imaginar quem está a trabalhar nos armazéns de Vinho do Porto, tudo muito mais modernizado e mecanizado que há 50 anos, menos gente, muito menos gente, administrativos, ainda alguns empregados de armazém e de linhas de engarrafamento e muito marketing e relações públicas e muita qualidade! Esta zona atrai turismo interno e externo, pela sua beleza, pela sua especificidade, pelo seu vinho. Mas não nos esqueçamos que estamos aqui nos Jardins do Palácio de Cristal, com o tal cogumelo de há uns anos a esta parte apelidado de Pavilhão Rosa Mota, e estes jardins estão bem cuidados, convém ver, convém estar para bem acreditar. Podemos, devemos, temos de visitar a Biblioteca Almeida Garrett, neste bonito espaço, com bastantes e bons livros, com gente de todas as idades. Mais velhos a ler os jornais que são gratuitamente disponibilizados, jovens por diversas mesas espalhados a estudar, silêncio como o lugar merece, também e de todas idades pessoas a usar os computadores, tudo concentrado, tudo a fazer o que melhor acha este espaço lhe proporciona. É um espaço com vida, com verdura, com bem-estar, menos em voga, de não fácil acesso, mas que será circuito obrigatório para além – evidentemente - de Serralves, da Casa da Música, do Parque da Cidade. Temos tantas coisas aqui no Porto, aqui no Norte e nos esquecemos que as temos que lá/cá podemos de quando em quando ir/vir/estar a custo zero, e deixarmos de só pensar em nos vitimizar!
Augusto Küttner de Magalhães