De: João Faria - "Em resposta a Pedro Bismarck «A cidade que está lá dentro»"

Submetido por taf em Quinta, 2010-04-08 02:32

Caro Pedro Bismarck,

Após ler atentamente o seu texto aqui publicado, permita-me, ao mesmo tempo que o cumprimento, discordar cordialmente. Sou morador da Baixa do Porto (moro numa perpendicular entre a Rua de Sta. Catarina e a Avenida dos Aliados) e como tantos outros moradores que conheço, apesar do estilo de vida alternativo que refere, não consigo, nem quero, abdicar da liberdade que um carro permite a uma família. Está a esquecer algumas questões básicas quando afirma o seguinte: "Porque quem quer sair de casa directamente para o carro não quer viver no Centro Histórico, irá viver em Gaia ou na Maia. [...] São pessoas que procuram estilos de vida alternativos, que não têm carro, mas que procuram um espaço activo de equipamentos públicos e actividades culturais." Permita-me perguntar-lhe: porque toma como adquirido que quem vive na Baixa do Porto não tem carro?

Por vários motivos é impossível para muitos indivíduos/famílias abdicar do carro - uma família com uma criança, um casal a trabalhar fora da cidade ou simplesmente um jovem trabalhador que necessita de visitar a família ao fim de semana - são vários os exemplos que lhe poderia dar. Mesmo vivendo no Centro Histórico, várias são as necessidades que não permitem às pessoas abdicarem, mesmo querendo, do seu automóvel. Para além disso, a falta de estacionamento adequado evita outras questões, e dou-lhe o meu exemplo. Durante um ano vi o meu carro assaltado 5 (cinco!) vezes durante a noite, à porta de casa! Não tive outra solução senão arrendar um lugar num dos vários parques privados existentes na zona e, claro, a um preço exorbitante, apenas para utilizar o carro meia dúzia de vezes por mês (vezes essas que, apesar de poucas, são indispensáveis). Esta é apenas uma das várias problemáticas de quem vive (e possui um automóvel) na Baixa do Porto.

A questão do parque subterrâneo levanta algumas questões que não vi ainda esclarecidas, entre elas os objectivos do "Túnel de Estacionamento". Continuando o raciocínio anterior, do meu ponto de vista este parque deveria ter como um dos principais objectivos o apoio aos moradores do Centro Histórico do Porto. Várias são as formas de prestar esse apoio, mas a mais lógica seria talvez a "subsidiação" do aluguer dos estacionamentos, de forma a melhorar a qualidade de vida dos residentes e, ao mesmo tempo, promover a repovoação do Centro Histórico. Só dessa forma conseguirei ver no "Túnel de Estacionamento" alguma utilidade.

Cumprimentos,
João Faria