De: Pedro Marinho - "Nós, que andamos de metro"

Submetido por taf em Quinta, 2010-04-01 22:25

Nós, que andamos de metro, dizem-nos, retirámos por dia 33000 veículos no Porto e em Gaia; melhorámos com isso o ambiente e diminuímos a sinistralidade. Tornámos a cidade e os subúrbios mais articulados, de oriente a ocidente, ajudámos a revitalizar o centro, a rotunda da Boavista, a integrar o eixo Francos-Viso. Nós, que andamos de metro, somos adeptos desse modelo de mobilidade, porque é certinho, podemos levar o cão, a prancha de surf, a bicicleta; os carrinhos de bébé ou as pessoas em cadeiras de rodas não precisam de empancar em torniquetes. Gostamos de atravessar a ponte D. Luíz e lançar um olhar afeiçoado às margens; de olhar a sucessão de telhados da Lapa, desdenhar os grafitis em Ramalde, testemunhar as estações do ano nos campos atravessados pelas linhas suburbanas.

E nós, que andamos de metro, porque nos afeiçoámos ao ponto de largar os automóveis e a aderir cada vez mais a este estilo de mobilidade de serviço público, somos a mais importante fonte de informação sobre o que é isso de andar de metro. Mas nós, que andamos de metro, não nos sentimos respeitados por quem toma as decisões sobre o metro. Questionamo-nos:

  • - quantas serão as pessoas, envolvidas nas grandes decisões sobre o metro, que andam de metro?
  • - quanto do executivo das Câmaras servidas se faz transportar de metro?
  • - em que tipo de estudos e projecções é que quem toma as decisões se baseia?
  • - serão esse estudos efectuados por pessoas, técnicos e engenheiros, que andam de metro?
  • - porque é que quando se fala em mobilidade vem primeiro a palavra “estradas & acessórios” à cabeça dos políticos e cidadãos, e não “metro, eléctrico, autocarro, bicicleta, patins”?
  • - porque leva tanto tempo o avanço das obras?
  • - será por falta de fundos, não haverá então nesse caso soluções mais baratas?
  • - porque custa tanto o metro expandir-se, se economicamente e socialmente é um projecto que vale algo que é quase imensurável?
  • - porque é que há paragens-fantasma?
  • - porque não há expressos em todas as linhas?
  • - porque não há um serviço nocturno, sexta e sábado noite adentro, mesmo com reduzida frequência?
  • - não será possível aumentar a frequência e velocidade de circulação do metro? porquê?

Porque nós, que andamos de metro, sentimos uma espécie de alívio, quase prazer, quando o metro salta de fora do túnel; que este é um factor altamente atractivo, o de ser à superfície, que aumenta a qualidade da viagem e chama público a este serviço que o é – público.

Túneis? Metam os carros em túneis, já que para muitos parece que a mobilidade e planeamento urbano resume-se a estradas e automóveis. Tornem o metro visível e fácil, e não uma coisa obscura para pobres. A nós, deixai-nos ao menos quedar sobre a paisagem do Parque da Cidade, do mar, da Ervilha e Pasteleira, e esporadicamente do rio, enquanto ouvimos música, lemos um livro, ou relaxamos no final do dia de trabalho.

Questionem-se, perguntem-nos: o que é isso de andar de metro? Experimentem...