De: José Ferraz Alves - "O Joãozinho... e o sentido certo da corrente..."

Numa altura em que as Câmaras Municipais orçamentam conscientemente vendas de património para simular receitas que não se chegam a efectivar.

Numa altura em que os Governos, aproveitando a inexistência de reais poderes que representem os interesses locais e regionais das populações do Douro, Trás-os-Montes e Tâmega, vendem e hipotecam antecipadamente património ambiental às distantes Administrações da EDP e IBERDROLA, para reduzir deficits orçamentais de curto prazo.

Numa altura em que... no Sabor Portugal se prepara para perder o último troço de vida selvagem.

Numa altura em que ... a barragem do Tua, que só vai aumentar a produção de energia eléctrica em 0,5%, cortará o histórico acesso de Trás-os-Montes por ferrovia à linha do Douro, aniquilando um potencial turístico e a agricultura, que são duas actividades não deslocalizáveis e de alto valor acrescentado, destruindo das mais belas paisagens de Portugal.

Numa altura em que... a barragem de Fridão, em Amarante vai destruir centenas de hectares de Reserva Agrícola e Reserva Ecológica Nacional, pontes antigas, praias fluviais, uma ETAR e muitas habitações.

Numa altura em que, nos dias que correm, tudo se admite vender na busca de receitas, em que a dignidade humana tem sido a primeira.

Numa altura de tanto silêncio, passividade e falta de solidariedade na Região Norte... duas luzes: um discurso de verdadeiro Estadista em D. Duarte de Bragança, consistente ao longo de décadas, na defesa da reabilitação urbana e social das cidades, no apoio à agricultura como vector de fixação de populações no interior, na preocupação com a auto-suficiência alimentar do país e com a preservações do ambiente e das linhas ferroviárias locais e regionais; e o projecto "um lugar para o Joãozinho", uma resposta da sociedade civil, liderada pela Administração do Hospital São João, e num sector da saúde em que o orçamento anual representa 1/3 de todo o QREN 2007/2013, que, não pedindo dinheiro ao Estado, avança para a construção de um modelar hospital pediátrico com o apoio financeiros dos seus 5 mil trabalhadores, de empresas da região e de um engenhoso processo de troca de know-how médico por tempo de publicidade em canais de televisão, e da sua posterior venda a empresas comerciais, entre outras vias de capitalização do projecto. O segredo está numa estratégia "win-win", em que todos ganham. Isto é empreendedorismo social e um exemplo de aplicação do Conhecimento para a Coesão Social, dando resposta a problemas sociais, mas de uma forma económico e financeiramente sustentável e responsável.

Esperando a solidariedade com os mais fracos simbolizada pelo Joãozinho, eu vou estar presente em Amarante na manifestação do dia 13 de Março contra a construção destas barragens que não são necessárias ao país. Sobretudo, não vou ficar passivo a ver rios a correr no sentido contrário da corrente.

José Ferraz Alves