De: David Afonso - "Propostas"
1. A cidade que sobra – ultimamente tenho dado por mim a cismar se não estaremos a dar demasiada importância ao centro histórico com óbvio prejuízo para o resto da cidade. Penso-o pensando não apenas nas periferias social e espacialmente fragmentadas, mas também e sobretudo na Campanhã, na imensa Campanhã. Tenho para mim que teríamos todos a ganhar se virássemos o tabuleiro e recomeçássemos o jogo com regras novas e com novos jogadores: em vez de apostarmos tudo na Baixa e Centro Histórico deveríamos estender este esforço à zona oriental da cidade, que tem sido votada injustamente a um esquecimento crónico. Creio até que esta mudança de estratégia traria vantagens inclusive para a recuperação da própria Baixa. De facto, ao traçar uma delimitação mais ou menos aleatória na cidade e tentar fazer daí uma ilha de desenvolvimento parece-me que estamos a afunilar e a comprometer outras possibilidades de desenvolvimento. Não será, admito desde já, uma solução genial, mas a Campanhã também merecia o estatuto de Área Crítica de Recuperação e Reconversão Urbanística (ACRRU) e a existência de duas SRU’s concorrentes (embora uma possível SRU Campanhã deveria revestir-se obrigatoriamente de uma forte dimensão social, inexistente na Porto Vivo) seria capaz de animar a cidade e despoletar uma dinâmica que se pressente e adivinha no Porto como um todo.
2. A cidade dos que não gostam de aviões por aí além não precisa de ostracizar e boicotar a Red Bull. Existem outros eventos organizados por esta multinacional que valeria a pena captar para o Porto, bastando para isso ultrapassar o trauma dos aviões que migraram para sul. Refiro-me a eventos como o Red Bull House of Art (ver também aqui), uma iniciativa que tem tudo para ser replicada por aqui: um edifício devoluto, uma selecção internacional de artistas, uma exposição colectiva. Atendendo aos esforços de reabilitação do centro histórico pela SRU, atendendo à existência de centenas de edifícios com as características adequadas ao evento, atendendo à existência de uma agência para o desenvolvimento das indústrias criativas, atendendo à existência de um museu de arte contemporânea de referência internacional, atendendo à exuberante concentração criadores nesta nesga de cidade e de instituições do ensino superior (incluindo a UP que, um dia, prometeu olhar para a arte e cultura como elemento estratégico), atendendo que até temos um bispo que ganha Prémios Pessoa e tudo e atendendo a que os geógrafos juram a pés juntos que habitamos num dos maiores conglomerados urbanos da Europa que vai da Corunha a Aveiro, não faltando, por isso, público… do que estão à espera? (OBS: em 2006, em colaboração com alguns parceiros públicos e privados e com o apoio do Ministério da Cultura, organizámos um evento mais ou menos nestes moldes, mas a uma escala muito menor: pollen2006.blogspot.com).
David Afonso
www.quintacidade.com