De: Augusto Küttner de Magalhães - "Este Porto esquecido"

Submetido por taf em Quarta, 2010-01-27 12:25

Se recordarmos o Porto há 40 anos atrás, era sempre referido como a 2ª cidade do país, e se bem que o poder sempre - tirando meia dúzia de dias - esteve em Lisboa, e esta era a capital, não havia um tão flagrante esquecimento generalizado do Porto, e de tudo o que aqui se passa. Não se trata de forma alguma de defender sem argumentos válidos a ainda segunda cidade do país, mas pelo contrário de constatar uma realidade cada vez mais evidente e inadequada. Se em tempos se dizia que o Porto trabalhava enquanto Lisboa se divertia, algo que é discutível mas efectivamente havia uma grande diferença de mentalidades quanto à forma de estar na vida e no trabalho, até fruto de as indústrias se localizarem mais no Porto e arredores e os serviços em Lisboa, o que só por si diferenciava até pela necessidade lógica de mais convivência extra-laboral na capital. Sendo que com o andar dos tempos, propositadamente ou não, se tem vindo a desvalorizar o Porto, as pessoas de cá, e tudo o que por aqui ainda de bem se sabe fazer. Não se trata de auto-comiseração, de resto totalmente desnecessária, mas da realidade evidente a quem por cá vive e a quem de fora nos vê.

A classificação de segunda cidade do país merece muito mais relevo, e tem de passar a ser encarada como uma realidade, e não chega, num país como o nosso, encher Lisboa de tudo e esvaziar ou deixar de encher o Porto do que quer que seja. Será interessante analisarem-se aspectos, até na forma como a generalidade do "media" trata as notícias do Porto ou as de Lisboa. Se há um acidente com 2 feridos na CRIL ou na CREL que atrasa o trânsito em 40 minutos, tem direito a notícia de telejornal, se no Porto acontece um acidente grave na VCI que interrompe o trânsito durante oito horas, não é mencionado, ou só o é ao-de-leve. Este exemplo, menos agradável, foi propsitadamente escolhido dado que outros muito mais agradáveis, que acontecem amiúde, passam ao lado. Veja-se um evento cultural de grande relevo, que foram as 40 horas Non-Stop em Junho em Serralves, ficou esquecido excepto pelo Presidente da República que lá esteve, mas a notícia a um evento cultural da máxima importância no Porto e até no Norte é esquecida até por comentadores de grande craveira no nosso país. As corridas da Boavista, as acrobacias dos aviões, como se passam no Porto, são relegadas para 3º ou 4º plano - e aqui há que realçar, pelo menos dois casos, que foram o jornal diário de referência e um semanário também de referência e qualidade, que bem acompanharam estes eventos (não vale escrever os títulos... para não fazer publicidade)- quando são acontecimentos que para além de servirem de distracção para muitas pessoas (algo cada vez mais necessário nos nossos dias) do Porto e arredores, são um chamariz para o turismo, para dar a conhecer o país "lá fora", dado que o Algarve - e ainda bem já é conhecido e há mais para cima de Lisboa. Não se trata de pretender fazer elevar o Porto tirando valor a Lisboa, de forma alguma, mas trata-se realçar a nível nacional que temos de olhar para o Porto com olhos de querer ver, e de bem o fazer, dado que todos e não só os de cá com isso iremos beneficiar. E se Lisboa, para além de ser a capital, de ter lá o Governo, de ter um leque abrangente cultural, e até referências museológicas e não só, o Porto também o tem, e não é só futebol, nem corridas de automóveis de 2 em 2 anos ou aviões em Setembro. Tem muito mais, tem um grande património cultural, tem "coisas" bonitas de que devem ser vistas, apreciadas e comentadas, acontecem "coisas" que a todos interessam, e para além do "antigo" tem também o moderno, e a este aportam em determinadas alturas, crimes e até situações desajustadas, consequência global do tempo em que vivemos, e "essas são notícias". E tudo o resto? Tudo o que de positivo também por aqui acontece, por cá se faz? Não vamos continuar a desquilibrar a balança, ficando aqui como os parolos, esquecidos, porque não o merecemos, não é a realidade e todo o pais, e todos nós benficiaremos, em querer ter para além de Lisboa - capital, o Porto, com tudo de seu que tem, alcandorado num muito bom e bem localizado aeroporto (Maia), num muito bom e bem localizado porto de mar (Matosinhos) e muito mais cultura, lazer, património...