De: TAF - "Construção racional"
Na foz do Douro, em Junho passado
Tenho vindo a observar desde há mais de 10 anos a maneira como se constrói em Portugal, e em particular no Porto. Sou apenas um "curioso" na matéria, pois a minha formação académica é de engenharia electrotécnica, mas ao longo deste tempo a minha impressão inicial tem saído reforçada: em geral a construção de habitação (especialmente a nova, mais do que a reabilitada) não é nada racional e isso faz com que resulte muito mais cara do que aquilo que supostamente seria possível.
Não é racional desde os requisitos do cliente, que costuma querer tudo e mais alguma coisa sem se lembrar de que vai ter de pagar, passando pelo desenho de arquitectura que raramente é pensado para facilitar a vida à engenharia, que por sua vez não dá feedback com soluções alternativas equivalentes e mais baratas, terminando na gestão de obra desleixada e demorada. Mesmo as construções "a custos controlados" parecem-me geralmente pouco optimizadas a nível de desenho e de escolha das soluções de engenharia, centrando-se o esforço na poupança nas "pequenas coisas" e não nas opções de fundo. Ou seja, fica-se contente quando se obtém algo que é 10% melhor do que a média, quando se devia apontar para reduzir para metade o preço típico. Concluo que haverá muita inércia, receio da reacção do mercado a soluções menos convencionais, e algum deslumbramento por "tecnologias avançadas" que acabam por ser tão ou mais caras que as convencionais, que são sub-aproveitadas. Complica-se o que é simples e não se simplifica aquilo que é escusadamente dispendioso.
Outro aspecto que me faz impressão são os cálculos típicos com "custo de construção por metro quadrado", como se isso não dependesse do projecto concreto em causa e não pudesse variar muitíssimo (mas mesmo muito!) de caso para caso. Ou melhor, se calhar na prática os orçamentos para obras pequenas são mesmo feitos assim quase "a olho", mas nada impede que se faça melhor.
Em paralelo, muitos dos nossos arquitectos da moda fazem mais "escultura de espaços" do que arquitectura propriamente dita. Pontes térmicas, durabilidade dos materiais, facilidade de reparação, adequação do projecto ao uso real dos imóveis, etc., são assuntos menores para eles...
Daí que pergunte: qual a opinião dos leitores d'A Baixa que tenham eventualmente estudado a sério como baixar os custos de construção sem diminuir (pelo contrário!) a qualidade técnica dos edifícios? E que conheçam propostas técnicas realistas (e viáveis em Portugal) radicalmente melhores do que a média? Agradeço respostas aqui para o blog ou particularmente para taf@etc.pt. Obrigado!
PS: Acredito aliás que esta é uma das mais promissoras áreas de trabalho futuro, uma Indústria Criativa "a sério". ;-)