De: Rui Moreira - "Choradinhos"
In "O Red Bull e o «choradinho» habitual", de Manuel Leitão, li que:
"ninguém explica, com provas, quais são os benefícios de ter a coisa no Porto, para além de se poderem tirar umas fotografias bestiais de avionetas com a nossa cidade em fundo ou aos próprios mirones de pescoço esticado. Se, porventura, o show atraísse turistas estrangeiros que trouxessem negócio para a cidade, outro galo cantaria. Mas não trazem nada disso: apenas nacionais, que virão cá na mesma, com outro divertimento ou realização cultural custando uma fracção ínfima da(s) dezena(s) de milhões de euros que a brincadeira custa aos contribuintes em cada ano."
Bom, será que o show atrairá, para Lisboa, os turistas internacionais que não atraía para o Porto? É que se também só atrair turistas ou mirones nacionais, não vejo qual é a diferença em termos macro-económicos e globais. Vejo que, ceteris paribus, o Porto perde e Lisboa ganha. Por outro lado, os turistas nacionais trazem óbvias vantagens para o Porto. Não, não é apenas para os comes e bebes. Há outras vantagens e para a economia da cidade, que se faz de uma miríade de transacções, são tão importantes como os galegos ou como os ingleses. E, queira ou não queira, há uma visibilidade óbvia fora de portas, mesmo entre aqueles que não vêm cá por essa razão, o que é um benefício intangível mas, ainda assim, nada negligenciável.
Mas o problema fundamental que está por trás da enorme contestação a esta decisão prende-se com a política de hiper-concentração. É que, pela mesma razão, poder-se-ia desmontar a Casa da Música - que também custa dinheiro ao Estado, e Serralves - que ainda custa mais, e instalar tudo em Lisboa, a pretexto de que custam muito dinheiro ao Estado e não atraem turistas estrangeiros para o Porto, e que os patrocinadores preferem apoiá-las se estiverem em Lisboa... Faça-se pois uma análise custo-benefício, como o Manuel Leitão sugere. E, das duas uma: ou os aviões são bons, e então mais vale deixá-los onde estão - no Porto e em Gaia -, ou não são bons e não interessam para nada, e nesse caso é razoável defender que a "air race" não seja realizada em Portugal, aproveitando esses recursos para outras funções mais nobres. Mas, se assim for, e adoptando uma visão economicista e porventura mais realista do que vale e do que não vale a pena fazer, consigo descortinar dezenas ou centenas de eventos que não deveriam ser feitos, por falta de retorno. E, meu caro Maunel Leitão, a esmagadora maioria destes decorre na capital colonial! Quer que lhe liste?
Concordo inteiramente consigo num aspecto. Creio que, antes de apostarmos recursos em mega-eventos importados, melhor seria investir numa política coerente de atracção do "bom turismo", divulgando aquilo que temos mas também fazendo mais pela qualidade da oferta. Ou, se calhar, só deveremos permitir os mega-eventos desde que sejam auto-sustentáveis, ou seja, pagos pela bilheteira e pela publicidade, recusando todo e qualquer patrocínio público, ou impondo que a troco desse patrocínio público eles se realizem nas regiões mais desfavorecidas do país, desde que haja algum retorno. Nesse caso, será sempre mais razoável fomentar eventos em Viana que no Porto? Pois, mas também fazem mais sentido no Porto do que em Lisboa.
Não concordo com obras faraónicas e também não posso concordar com eventos babilónicos. Mas não deixo que este realismo sirva para esconder a realidade, e a escandalosa discriminação de que este caso é apenas mais um gritante exemplo... Será isto regionalismo, bairrismo ou seja o que lhe queira chamar? Duvido. Acho que é do mais elementar bom senso questionar porque razão na questão dos grandes eventos tal como na questão das obras públicas haverá sempre dois pesos e duas medidas: entre Lisboa e a parvónia. Por isso, Manuel Leitão, espero que concorde comigo. Mas mesmo que não concorde, espero lê-lo com o mesmo "apropósito", sobre um dos eventos que, semanalmente, é promovido pelos dinheiros públicos e que se realiza lá para as bandas do Terreiro do Paço...