De: Teodósio Dias - "Cineclube do Porto - Sobre o Manifesto"
Para mim, manifesto é uma declaração pública onde é exposto um programa ou uma acção (ver o Manifesto de 1848). No âmbito artístico também surgiram manifestos para lançar movimentos artísticos (Manifesto Anti-Dantas, Manifesto do Surrealismo). Desta vez, encontramo-nos perante um Manifesto que não o é. Um Manifesto que não tem programa, que não tem propostas. E acompanhado de um abaixo-assinado, petição, existente na “rede” sem objectivo claro.
Eu podia, hoje e aqui, também redigir um Manifesto anti-Manifesto, mas não me dirijo à “BAIXA DO PORTO” para tal.
- - 1. Como é sabido, desde Maio 2006, sou o responsável do blog do Cineclube do Porto. Sou sócio do Clube Português de Cinematografia – Cineclube do Porto, mas nunca fiz parte da Direcção.
- - 2. Não quero, de maneira alguma, entrar em polémica com os autores do blogue do “Movimento pelo Cineclube do Porto”. Mas se são sócios porque não propõem uma candidatura às próximas eleições para a Direcção?
- - 3. Durante esta semana, várias pessoas me perguntaram o que se passava com o Cineclube, se eu conhecia a petição e o manifesto, que o achavam vazio e que não estava endereçado a nenhuma pessoa nem a nenhuma instituição em concreto.
- - 4. Exprimo, aqui e agora, algumas das minhas opiniões pessoais sobre o Cineclube e sobre o estado do Cinema no Porto.
O Cinema ama o Porto mas o Porto não gosta do Cinema. – Pouco a pouco, nos últimos anos os cinemas foram desaparecendo apesar de estarmos na cidade onde nasceu Manoel de Oliveira. O Cinema Batalha reabriu as portas mas não foi implementada nenhuma programação cinematográfica. A Casa Manoel de Oliveira há anos que está concluída e abandonada. Há cerca de um ano que muito se falou da criação de um pólo da Cinemateca na Invicta, falou-se muito mas nada se faz.
O Cineclube de antigamente já não pode sobreviver. - As sessões dominicais a reunirem várias centenas de espectadores já não correspondem à maneira de viver dos nossos dias.
O Cineclube do Porto está doente há alguns anos e ninguém se apercebeu, ninguém tentou ajudar. - As sessões do Cineclube do Porto tiveram lugar na Casa das Artes até esta fechar por motivos de segurança. Depois de 2004, as sessões quinzenais tiveram lugar em várias salas da cidade (Auditório da Biblioteca Almeida Garrett, Cinema Batalha). Quando o senhorio do prédio da Rua do Rosário tentou uma acção de despejo dos inquilinos também pouca gente se manifestou na cidade.
O Cineclube do Porto é dos sócios e para os sócios. – Os problemas internos devem ser resolvidos dentro da própria associação e não na praça pública. A Direcção deve ouvir os sócios e dialogar com eles. Compete aos sócios decidir do futuro da instituição.
O Cineclube do Porto tem estado adormecido. – Apesar de poucas actividades terem filtrado para o exterior, nos últimos anos houve a concretização de várias acções com diversos parceiros.
Penso que o Cineclube do Porto deve inovar e tentar encontrar novas pistas para sobreviver e para defender o Cinema de Autor. Penso que na hora actual o futuro da associação depende do diálogo interno, e, num segundo tempo, de uma tentativa de parceria com outras instituições da cidade.
Não pertenci ao público das sessões infantis mas recordo-me perfeitamente das primeiras sessões a que assisti no Batalha aos meus 17 anos. Lembro-me perfeitamente dos colóquios na sede, dos cafés no S. Paulo, da descoberta de um outro cinema. Naquilo que estiver ao meu alcance ajudarei à sobrevivência do Clube Português de Cinematografia – Cineclube do Porto.
Teodósio Dias