De: Pedro Menezes Simões - "Salvar o Tua"
A construção da barragem tem apenas uma vantagem: contribuir com 0,5% da produção eléctrica nacional. Um valor, portanto, pouco relevante. Quais as contrapartidas?
- - Destruir a linha de ferro do Tua. Esta linha, a única com possibilidade de ligar o sistema nacional ferroviário a Bragança (e consequentemente, o único com possibilidade de ligar o interior Norte à linha de alta velocidade em Sanábria), é também de um enorme potencial turístico com grandes sinergias com o actual padrão turístico no Douro.
- - Destruição de um património paisagístico e ambiental ímpar.
- - A destruição de 800 empregos só em Murça - o equivalente a 20% da população activa do concelho: uma catástrofe social, portanto.
- - A qualidade da água irá deteriorar-se significativamente no Douro, falhando o cumprimento da directiva europeia sobre a qualidade da água.
- - A construção das barragens altera o clima da região envolvente. O que significa que as condições climatéricas únicas da primeira região demarcada do mundo serão alteradas.
Fala-se muito na Linha do Tua, mas é importante perceber que o que está em causa é muito mais do que isso. Falamos de um projecto que pode ser desastroso para a região. E por região não se entenda apenas Mirandela e arredores. Entenda-se impactos significativos e irreversíveis em Trás-os-Montes, Douro e Porto. De um lado, temos 0,5% da produção eléctrica nacional. Do outro, mais interioridade e desemprego, destruição de património, deterioração significativa da qualidade da água consumida por grande parte da população do país, potencial deterioração da qualidade do Vinho do Porto. Nem Bruxelas percebe a decisão.
E o que aqui se diz da barragem no Tua também se poderá dizer das restantes barragens do Douro. A defesa da manutenção da linha ferroviária no Tua é uma questão sem dúvida relevante. Mas o processo de destruição que aqui está em causa não se limita a uma linha ferroviária: é todo um ecossistema económico e ecológico, e que é transversal às diversas barragens planeadas para o Douro. Ainda sobre este tema, recomendo o muito esclarecedor texto do António Cerveira Pinto.
Pedro Menezes Simões
Associação de Cidadãos do Porto
Rede Norte