De: F. Rocha Antunes - "Nomes e moradas das vítimas"
Caro Tiago,
A tua posição sobre a questão da regionalização faz-me lembrar uma velha anedota do tempo de Marcelo Caetano, em que se queria demonstrar que não éramos racistas em relação aos nossos irmãos africanos. A anedota era esta: Numa pequena avioneta a viajar sobre um território africano iam três passageiros, dois brancos e um preto, numa viagem de Estado. A viagem ia atribulada devido ao mau tempo e o piloto estava cada vez com mais dificuldades de manter a avioneta no ar sem aligeirar a carga. Depois de terem deitado todas as malas fora era preciso decidir qual dos três passageiros se ia atirar de pára-quedas, num salto quase seguro para a morte, para salvar os restantes ocupantes. Após alguma discussão foi decidido que iria saltar da avioneta o passageiro que não fosse capaz de responder a uma pergunta de cultura geral para darem um ar democrático, o preto poderia fazer as primeiras duas perguntas e eles fariam terceira. A primeira pergunta foi feita pelo africano a um dos brancos foi: qual foi a arma que acabou com a segunda guerra mundial? O dito branco respondeu, correctamente, que foi a bomba atómica. O africano perguntou ao segundo branco qual era a terra onde tinha caído a primeira bomba atómica, e a resposta veio certeira: Hiroshima. Como era a vez dos brancos perguntarem ao preto, combinaram primeiro a pergunta que os dois iam fazer e depois dispararam: qual o nome e a morada das vítimas?
A regionalização é uma questão de soberania, e portanto, de poder. O poder não se pede nem se consensualiza antes, conquista-se. Não vejo porque carga de água é que temos de reorganizar as freguesias e os concelhos antes da regionalização. Não discuto que também devemos fazer isso, mas para isso temos sempre de ter autorização do poder central e, mais uma vez, de pedir licença. A regionalização não é um favor que nos podem fazer, é uma coisa a que temos direito e se lutarmos por ele vamos conseguir. E lutar é a palavra certa, porque não há memória de se ter poder sem ser em resultado de uma luta. A vantagem de vivermos numa democracia é que essa luta escusa, para já, de ser violenta mas não tenhas ilusões: ninguém te vai dar o poder de juntar freguesias, ou municípios sem teres uma regionalização primeiro.
Francisco Rocha Antunes
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Nota de TAF: caro Francisco, não percebi - então para reorganizar freguesias e municípios "temos de ter autorização do poder central" e para a regionalização não?
PS: Caro Tiago,
Não percebeste mesmo: só com a determinação e a união de todos os que acham que esta região precisa de ser salva do centralismo é que se pode conseguir a regionalização. Os políticos não têm grandes ideias, apenas seguem aquelas ideias que acham que lhes permitem o acesso ao poder. Alguns políticos nesta região já perceberam que a regionalização é fundamental mas não conseguem levá-la por diante enquanto nós não engrossarmos o movimento que quer a regionalização para Portugal. Só com uma luta pela regionalização se consegue chegar lá. Quando formos tantos a exigir a regionalização que ela passe a ser incontornável. Não é a pedir com licença que ela vai ser conseguida.
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Nota 2 de TAF: pois, mas o mesmo poderia ser dito para as freguesias e os municípios... ;-)