De: Pedro Marinho - "Diz-me com quem andas..."

Submetido por taf em Sexta, 2009-11-06 13:59

Gostaria de lançar uma espécie de exercício mental a todos os que frequentam este espaço, numa reflexão que foge um pouco aos aspectos óbvios do quotidiano, que tanta atenção nos roubam e ruído provocam. Escolham personalidades do Norte, façam uma breve apresentação.

Rui Moreira – O tecnocrata com a sensibilidade. Justifica o factor económico como uma vertente de uma cultura, uma âncora, uma metáfora, sintomática até quando cita Eça: «o portuense tem vergonha na cara e lisura nas contas». Enquanto lia o seu livro «Uma questão de carácter», pareceu-me ao princípio um discurso inflamado que caía na toada teatral que todos os políticos lá em baixo (e alguns cá em cima, por contágio) tanto abusam; depois, fui percebendo a diferença. Lá em baixo, inflama-se o slogan, impõem-se soluções. RM expõe razões; e a sua flama é do mesmo fogo que nos queima quando vemos um amigo a quem lhe foi imposta uma desonra.

Hélder Pacheco – Percebe o Porto como uma extensão da alma dos Portuenses – e vice-versa. Relaciona a plural paisagem física com a plural paisagem emocional e retrata esse equilíbrio. Em cada texto (por oposição ao preceito imparcial que historiadores pretendam ser) HP é um cronista e deixa fluir nas suas palavras paixão. Sonda as ruas do Porto, e por isso a rigidez das pedras, e a dureza da vida do povo; como consequência, crava no leitor um sentimento de humildade e admiração, por aquilo que nos envolve.

Agostinho da Silva – Faz aflorar no cerne do pensamento – as palavras – a projecção espiritual de um indivíduo, o papel do mundo. «Mais do que fazer tal ou tal obra, o Homem deve ambicionar ser tal ou tal objecto no Mundo». Desta base sólida como só o granito é comparável, AS esmiúça isso que é ser-se português, focando a essência do ser espiritual que vai muito além das fronteiras, da religião e igreja e sociedade. AS tem uma linha de pensamento franciscana, no sentido que consegue separar o essencial do supérfluo, destacar a melodia do ruído: «As pessoas confundem progresso técnico com progresso humano».

Três personalidades que se movem em campos distintos. Aparentemente. Com mais atenção, percebemos que são como que diferentes folhagens de uma mesma árvore; que derivam do mesmo tronco, crescem das mesmas raízes. Representantes de uma cultura. Podemos não concordar com todas as suas opiniões, mas o respeito e a identificação são quase imediatas.

Fica o desafio – e dir-te-ei quem és.

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Nota de TAF: o blog de Hélder Pacheco, informação de Teo Dias.