De: Emídio Gardé - "Troleicarros"

Submetido por taf em Quinta, 2009-11-05 14:50

Peço desculpa para reacção extremamente tardia ao texto de Carlos Manta Oliveira surgido a propósito do anúncio da criação de uma linha de troleicarro na Amadora (mas por que usar o termo 'Trolleybus', se 'troleicarro' é a palavra portuguesa adequada?), onde propunha a cópia da ideia para a ligação do Porto a Centros Comerciais na periferia da cidade, terminando com a pergunta óbvia "Porque não ter os Trolleybus de volta ao Grande Porto, com ofertas complementares ao Metro e comboio, e não concorrentes?"

Mas quem é que disse que o troleicarro é concorrente do metro e do comboio? Aí é que reside a grande, a enorme, confusão nas mentes decisoras...

O troleicarro começou por ser um concorrente do vulgar carro eléctrico: não necessitava de carris pelo que não só era mais versátil como mais económico. Depois começou por ter como concorrente o autocarro a diesel: mais versátil ainda e ainda mais económico. Numa altura em que a poluição ambiental e sonora, o Efeito de Estufa, e o Aquecimento Global eram coisas para os cientistas doidos.

E o troleicarro evoluiu. Tornou-se um veículo ideal para substituir os autocarros a diesel naquelas carreiras nos centros das cidades, com elevadas frequências e alto grau de ocupação: sendo eléctrico, obviamente que evita fumos e barulhos desnecessários, e transporta rápida e comodamente os passageiros para os seus destinos, independentemente de serem Centros Comerciais ou outros. O eléctrico rápido vem a seguir, quando o troleicarro já não dá conta do recado, quando a afluência de passageiros é muito grande. E a seguir vem o Metro. E depois o comboio, este mais vocacionado para ligações sub- e interurbanas.

[Sem querer levantar polémicas, o que há no Porto não é um Metro: apresenta uma estrutura mista entre o metro, o pré-metro e o metro de superfície. Embora tenha uma frequência de serviço dentro dos padrões de um metro e de ter 8 km subterrâneos, o que o tornaria um pré-metro, o facto de o restante ser à superfície com inúmeros cruzamentos com o restante tráfego e, em certos casos, circular em vias pedonais com acesso condicionado a outro tipo de viaturas (ambulâncias, polícia, etc.) aproxima-o indubitavelmente do conceito de metro ligeiro.]

Portanto e resumindo: o troleicarro, mais do que uma opção de transporte, é uma opção política. No Porto acabaram com a rede que existia, uma das maiores na Europa de então, por decisões que poderia considerar como erradas. E agora, para reerguer uma rede de novo, por pequena que seja, é uma decisão difícil de ser tomada.

Aliás, no nosso país andar de autocarro, ou de metro - ou de troleicarro - é, em 90 % dos casos, só para quem não tem automóvel privado... E quanto a poluição...

Emídio Gardé