De: Luís de Sousa - "A Privada"

Submetido por taf em Quinta, 2006-07-20 23:18

A intenção da Câmara de privatizar o serviço de recolha do lixo agrada-me, embora os métodos sejam os piores e mostrem uma falta de coragem política para resolver um problema aparentemente tão simples e que com a evocação de um melhor serviço e economicamente mais viável reuniria um apoio unânime junto dos munícipes.

A reconversão do Palácio das Cardosas em Hotel de Luxo foi acolhida com entusiasmo por grande parte da sociedade portuense pois encaram-na como um pólo atractivo que trará maior vivência à Baixa. Se o empreendimento for bem sucedido, os turistas que nos visitam terão o seu quarto junto à "Sala de Visitas da Cidade", com banhos de rio ou de "piscina" a poucos metros de distância. Como pedestre convicto que sou, ando e observo a realidade do Porto com mais calma que os aficionados do "Grande Prémio da Boavista", e vou reparando que em frente aos Hotéis da Cidade os turistas embarcam em autocarros privados a várias horas do dia, com preferência para as 10 e 17 horas, o que não causa grande embaraço ao trânsito automóvel pois esses hotéis normalmente estão situados em ruas pouco movimentadas, ou quando isto não acontece possuem uma entrada recuada em relação à rua o que permite o estacionamento dos ditos autocarros. Pois então eu aguardo para ver o que vai suceder no Palácio das Cardosas que se encontra provavelmente na zona de maior tráfego automóvel na zona baixa da cidade, sem possibilidade de estacionamento dos ditos autocarros em nenhum dos seus alçados laterais e na fachada principal as coisas ainda se complicam mais, pois têm logo em frente o cruzamento mais caótico da cidade, tem paragens de alguns transportes públicos e no futuro terá supostamente uma linha de eléctrico a funcionar de forma regular. É um problema de tráfego automóvel e de mobilidade que vou seguir com atenção pois desde há algum tempo acho que a intervenção na Avenida dos Aliados teria sido uma boa oportunidade para repensar o trânsito automóvel numa zona que muitos pretendem que se assuma como espaço público qualificado. Não penso que uma mega-rotunda circundada por carros (minto, às vezes também a atravessam a meio) e sem equipamentos dinamizadores no seu centro possa algum dia ser um verdadeiro espaço público qualificado. Caros automobilistas compulsivos o centro histórico vive-se melhor a pé, sem fumos e com liberdade de movimento maior do que aquela que temos com as peles de zebra mal estendidas em floreados graníticos. Convido-os a espreitarem a evolução das cidades europeias que há 40 ou 30 anos viviam este excesso de tráfego automóvel nas suas zonas mais emblemáticas, como nós nos confrontamos agora, e vejam a libertação gradual de grandes praças e de ruas do tráfego automóvel a favor dos pedestres (vejam o antes e o depois e escolham o que mais vos agradaria ver no Porto).

Em relação à gestão privada de determinados equipamentos, culturais e não só, é muitas vezes do ponto de vista da gestão económica e programática uma boa opção. Porém não sei se já repararam que por vezes esta opção limita a nossa utilização do bem público. Barram-nos a máquina fotográfica à entrada (apelando motivos de segurança) não nos deixam entrar com mochilas onde temos material essencial para o exercício do desenho achando que esta prática se limita ao acto de riscar num bloco com um mero lápis, isto quando não nos barram também o lápis e o bloco à entrada apelando ao envio de um requerimento à administração para obter autorização para poder praticar uma linguagem tão natural como a que nos sai pela boca quando falamos... numa palavra RIDÍCULO, (pior que isto só mesmo um segurança que me impediu de percorrer e de me deleitar na relva do Museu Serralves há um mês atrás) mas enfim.

Cumprimentos
Luís Sousa