De: José Ferraz Alves - "É assim que o Porto trata os seus licenciados?"
Na sequência de um comentário que escrevi recentemente, a propósito da fusão AEP-AIP, recebi o seguinte testemunho da Márcia Mendes, para o qual solicito a adequada atenção, sobretudo por parte das "elites" da região, ou seja, de todos aqueles que têm efectivo poder de decisão:
«Existem pessoas que ainda não abdicaram do projecto de trabalhar na sua área, na nossa cidade. Pessoas que todos os dias percorrem avidamente os jornais e anúncios on-line, pessoas que enviam candidaturas espontâneas às centenas, pessoas que vão de porta em porta entregar CV's em busca de uma oportunidade. Com a fusão da AIP com a AEP, o cenário torna-se ainda mais complicado, menos motivador para quem está em busca de um projecto aliciante. O Porto necessita de se tornar uma cidade competitiva, com mais e melhores ofertas de emprego, para assim poder integrar o pelotão da frente de cidades desenvolvidas. O desenvolvimento não se mede apenas em "betão", mas, essencialmente, na qualidade de vida que os seus habitantes usufruem. E, numa cidade onde as oportunidades de emprego qualificado não abundam, não resta outra opção que não migrar para a capital, votando o Porto a um deserto urbano.
Incluo-me no grupo de recém-licenciados que faz todos os esforços possíveis para se manter na cidade. Migrei para Lisboa para poder estudar a licenciatura da minha escolha - já que, à época, essa não existia no Porto. Foi lá que realizei estágios curriculares e trabalhos vários para poder chegar ao fim da licenciatura com experiência no mundo laboral. Não achando suficiente, juntei-me a um projecto da Comissão Europeia, no qual trabalhei mais aprofundadamente a minha área de eleição. Findo este processo de maturação, regressei ao Porto com a ambição e garra necessárias para me candidatar espontaneamente a várias Fundações, agências de comunicação e empresas com as quais me identifiquei e considerei que o meu perfil se adequava. Rapidamente me apercebi que as poucas respostas que tive eram apenas propostas para estágios curriculares, sem possibilidade de contrato ao fim do mesmo. Os estágios curriculares, sem perspectiva de empregabilidade, não pagam contas, não permitem atingir independência e não motivam ninguém a ser mais e melhor. Outras respostas mostraram-me um fechar em si mesmas que não se coaduna com a missão que é conotada a essas organizações.
As únicas propostas laborais vieram de Lisboa. As quais foram sendo recusadas, por considerar que o Porto havia de ter algo a oferecer aos seus recém-licenciados, algo mais além de estágios curriculares, baixos salários e empregos relacionados com a área comercial ou administrativa. Será que não há mesmo mais além disto no Porto? É assim que o Porto trata os seus recém licenciados? Basta abrir um jornal nos classificados e ver os anúncios de emprego para o Porto e para a Lisboa para ficar estarrecido com a diferença de qualificações exigidas. Ou pior, com as mesmas exigências de qualificações, mas uma gritante diferença a nível de funções e de remunerações. Com a disparidade no número de anúncios entre uma cidade e outra. Assim torna-se insustentável prender as "elites" mais jovens na cidade. Temos uma das Universidades mais reconhecidas da Europa, no entanto, não temos empregos condizentes com essa realidade. E assim... assim a única solução passa, inevitavelmente, por uma mudança para a capital ou para o estrangeiro. Uma mudança de estratégia é necessária, mas, desta feita, uma mudança com ambição e com brio na cidade que temos e pretendemos ter. Só dessa forma se pode assistir a uma revitalização humana do Porto.»
Entendo que devemos assumir o empreendedorismo e a criação de emprego como desígnios para a Região, e exigir o mesmo do novo Governo Nacional, e que nos devemos focalizar em ideias e projectos nesse sentido. Por isso, o primeiro passo seria não destruir ainda mais o que ainda existe. Da minha parte, em conjunto com a Rede Norte e a Associação de Cidadãos do Porto, informo que vou continuar nesta senda e que me vou reunir com responsáveis nacionais e internacionais – religiosos, políticos e Fundações especializadas neste domínio -, capazes de ajudar a dar uma resposta neste sentido.
José Ferraz Alves