De: João Freitas - "A verdadeira história do «Ovo de Colombo»"
Raramente escrevo neste blog mas, crendo ser um modesto mas honesto engenheiro e detestando que haja pessoas (desculpe-me o TAF) que se arrogam o direito de escarnecer, a torto e a direito, acerca da capacidade técnica de outros, permito-me esclarecer e tentar sanar uma injustiça.
Desde o século XIX que os reservatórios principais da chamada zona baixa do Porto foram abastecidos a partir do reservatório de Jovim através de duas condutas. Uma, centenária, em ferro fundido, e outra em betão com dezenas de anos, as quais, com origem no dito reservatório de Jovim, desaguavam nos reservatórios de Nova Sintra. Daí a água era bombada para os diversos reservatórios que abastecem a cidade.
Ora, pensou o nosso amigo Prof. Martins (tal como o TAF pensa) que, estando o reservatório de Jovim a cota superior à generalidade dos reservatórios da zona baixa, não haveria necessidade de descarregar a água em Nova Sintra (desperdiçando carga hidrostática) e poder-se-ia conduzir a água directamente a outros reservatórios mais elevados sem consumir mais energia na respectiva bombagem. Este raciocínio, apenas digno de génios ímpares e pessoas predestinadas à glória, foi tecnicamente correcto e, em princípio, deveria conduzir a um sucesso estrondoso e à poupança de milhares de euros. No entanto – dirijo-me agora directamente ao Prof. Martins -, V/ Exa. não foi o primeiro a fazê-lo. Como V/ Exa. pôde constatar posteriormente.
Sim, é que a hidráulica tem destas coisas. Não fosse o facto de a linha adutora proveniente de Jovim passar na Av. de Paiva Couceiro (marginal do Douro) antes de subir aos reservatórios de Barão de Nova Sintra, e tudo teria corrido bem. Mas a verdade é que esta conduta tem junto ao rio o seu ponto mais baixo seguindo-se uma ascensão abrupta. E que, ao eliminar a descarga em Nova Sintra, forçando a água a “trepar” a pontos mais elevados, aumentou exponencialmente a pressão no ponto mais baixo o que, numa conduta centenária, provocou o seu rebentamento quase imediato. Oops!
Pois é, houve um “Erro de Colombo” no raciocínio do génio. E este erro nunca foi tornado público, pelo menos com as parangonas com que foi anunciado o Ovo homónimo!!! Afinal, alguém já tinha pensado nisso mas nunca tinha sido posto em prática porque, com o material existente, era tecnicamente inviável. Que pena! Eis então que, forçado a retornar à terra e à vetusta bombagem, com uma conduta "estoirada" e sem poder usufruir da lei da gravidade, nem querendo admitir publicamente o erro, o génio encontra a solução. E é assim que é "antecipado" o investimento da empresa Águas do Douro e Paiva (onde o Prof. havia militado) a qual à pressa constrói, sem grandes publicidades e a suas expensas, uma nova conduta ao longo da marginal, moderna, capaz de aguentar as pressões e igualmente capaz de salvar a face do navegador encalhado!!!
E tudo acaba bem. Não foi bonito? Bonito era, em nome da cidade, pedir-se desculpa aos técnicos que, afinal, já tinham pensado nisso e foram publicamente enxovalhados. Afinal, para manter o ovo em pé não era preciso génio, … só dinheiro!
João Freitas
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Nota de TAF: As minhas desculpas pelo erro que pelos vistos ajudei a difundir... Não sendo da área (a minha engenharia é electrotécnica) e desconhecendo totalmente o sistema em causa, limitei-me a reproduzir a explicação que tinha ouvido de Poças Martins. Não tendo sido este o caso, não são contudo nada invulgares exemplos de erros sistemáticos que ocorrem ao longo de muito tempo apenas porque as pessoas não se dão ao trabalho de estudar devidamente aquilo com que trabalham. O exemplo mais "bombástico" de que me lembro agora: a recente crise financeira mundial.
PS - Uma pergunta adicional: Poças Martins não consultou os técnicos da casa antes de avançar para a "inovação"?