De: José M. Varela - "No rescaldo do debate"
No final do primeiro debate entre os candidatos à presidência da Câmara Municipal do Porto ficámos com a sensação que durante toda a discussão pairou um fantasma sobre os participantes: o fantasma do Eng.º Nuno Cardoso e da sua "herança". Com efeito, podemos constatar que os dossiers Parque da Cidade, Aleixo, abertos por Nuno Cardoso e que foram já discutidos em 2002, em 2005 continuam a condicionar as decisões da CMP de hoje. Elisa Ferreira entrou mal no debate e conseguiu sair pior, mostrando-se excessivamente nervosa e insegura, o que se traduziu num registo crispado e autoritário. A ambiguidade do discurso de Elisa Ferreira e a forma como evita assumir posições concretas sobre as principais questões da cidade, revelam que a candidata tem um profundo desconhecimento das principais questões com que a Câmara do Porto se defronta e a falta de ideias políticas para a cidade. Não admira, tendo em conta os vários anos que leva afastada da cidade do Porto, em Lisboa ou em Estrasburgo.
Teixeira Lopes limitou-se a mandar uns apartes, mais ou menos inofensivos, mas mostrou o mesmo problema de Elisa Ferreira: a falta de conhecimento dos problemas e falta de propostas para soluções concretas.
No fundo a essência do debate acabou por se resumir ao confronto entre os dois candidatos que têm propostas de políticas camarárias, ou seja, entre Rui Rio e Rui Sá.
Rui Rio disse claramente ao que vinha, ou seja, com ele teremos a continuação do rumo destes últimos oito anos. Pessoalmente considero que este rumo tem sido desastroso para a cidade, que tem vindo a degradar-se e a perder população e influência.
Rui Sá mostrou durante o debate que conhece profundamente os principais problemas da cidade e da autarquia e que para cada um tem propostas alternativas às que são apresentadas por Rui Rio. Mas, ao contrário de Rui Rio que se refugia na sua teimosia inflexível, Rui Sá tem a capacidade de dialogar e negociar com os diversos agentes que fazem a cidade de forma a criar pontes que permitam criar políticas de desenvolvimento para a cidade. E, ao contrário de Rio, Rui Sá tem uma visão humanista para a cidade do Porto.
Uma nota final apenas: O governo da última legislatura foi, muito provavelmente, o governo mais centralista que Portugal teve nos últimos 30 anos. Este carácter "centralista" tem por base a ideia (compartilhada pelas elites tecnocráticas do PS e do PSD) de que apenas existe uma região competitiva a nível europeu e onde se deve concentrar todo o investimento público: a região de Lisboa. Até o regulamento dos fundos comunitários foi manipulado e distorcido para permitir concentrar na região de Lisboa os fundos que foram retirados às restantes regiões do país. O recente discurso de José Sócrates na inauguração da A16 comprova isto. Ao mesmo tempo os investimentos no Porto e noutras regiões do país foram congelados ou adiados, como no caso do alargamento do Metro do Porto. Não se percebe como é que um dos principais (talvez mesmo o principal) responsáveis por esta escolha que prejudicou tanto o Porto se candidata agora para representar a cidade como presidente da Assembleia Municipal.
José Manuel Varela