De: F. Rocha Antunes - "Clarificar é preciso"

Submetido por taf em Quinta, 2009-09-24 23:41

Caro José Pulido Valente

Sou dos poucos que acham que o negócio do Parque era o melhor para os cidadãos do Porto. Sei que isto é uma heresia porque a questão foi sempre posta de forma demagógica como se a escolha fosse entre o verde e o betão, quando ela era apenas de escolher a melhor forma de a cidade comprar terrenos privados para aumentar o Parque que existia. Esta minha opinião tem oito anos, tantos quantos este assunto se arrasta sem estar perto de estar resolvido e várias vezes a fui escrevendo aqui.

Uma das mistificações actuais é a de que Nuno Cardoso decidiu à pressa, sem ninguém saber, nas últimas horas do exercício de Presidente, já depois de Rui Rio ter sido eleito, e que isso foi feito apenas para agradar às famigeradas imobiliárias. É verdade que terá assinado a viabilidade depois das eleições, provavelmente porque também ele não contava com a vitória de Rui Rio, mas o essencial da discussão já estava feito. Lembro-me perfeitamente dos meses sem fim em que o assunto foi discutido na cidade, da vergonha que foi o comportamento de muitos dos ilustres arquitectos da nossa praça quando perceberam que o autor do projecto do Parque, o Arq.º Paisagista Sidónio Pardal, é um homem de palavra e não deixou de reafirmar que sempre tinha defendido a necessidade de haver construção a resguardar o Parque da influência marítima, e de todo o esforço para virar ao contrário a questão que se punha então e que ainda hoje não está resolvida: como vai a cidade do Porto pagar todos aqueles terrenos que eram propriedade privada e que há umas dezenas de anos que foram expropriados mas nunca pagos?

Nesse ponto tu, Rui Rio e o deputado municipal Machado de Castro estavam do mesmo lado, juntamente com muitos outros. Mas há uma coisa que eu não ainda hoje não percebo: como é que se propõem pagar?

O Presidente da Câmara propõe-se agora pagar com terrenos que são da cidade, dizendo que está apenas a fazer uma troca de terrenos. As contas do deputado municipal Machado de Castro não percebi quais são: por um lado parece sugerir que se deve esperar pelas várias sentenças e pelo fim dos recursos e só então ver como se faz, mas entretanto faz mal as contas, porque pelo exemplo que deu o valor total dos terrenos seria de 80 milhões de euros e acha que pagar 50 milhões por isso é um negócio ruinoso para a cidade. E tu? De que maneira achas que se deve pagar ou será, como eu suspeito, que achas que não tem de se pagar nada?

Gostava de saber a tua opinião.

Francisco Rocha Antunes