De: José Ferraz Alves - "Aleixo, a chantagem de Rui Rio sobre a liberdade e a coesão dos cidadãos do Porto"
Não posso deixar de me congratular com um renovado movimento de afirmação da democracia, traduzido numa mudança de comportamento de alguns políticos e decisores, que têm tido o mérito e a coragem de saber ouvir, reflectir e, quando assim entendido, recuar e alterar, nomeadamente no caso dos investimentos ferroviários. Mas Rui Rio não tem esse espírito democrático e decepcionou-me profundamente. Aliás, na linha de alguns, poucos felizmente, que só sabem escrever como reacção ao que lêem dos outros, colocando-se parágrafo a parágrafo na posição contrária, sem nada acrescentarem de positivo.
Eu, José Ferraz Alves, deixo aqui bem claro que apresentei a Rui Rio e à sua equipa, ao longo destes últimos três anos, um conjunto de projectos construídos pelos cidadãos, em defesa de alguns dos mais dramáticos problemas da cidade, dos quais destaco apenas alguns:
- - 1. Boavista FC: criação de um sistema de adesão de sócios, em rede, que permitiria a captação de 30 mil sócios e o pagamento da sua dívida à Banca em 5 anos.
- - 2. Sistema de hipotecas invertidas, para financiamento de obras de reabilitação em casas propriedade de idosos, reformados, seguindo o modelo espanhol do BBVA, em que se faz uma hipoteca sobre a casa, em troca da qual o proprietário passa a receber uma renda mensal vitalícia, sendo parte desse rendimento afecto às obras de recuperação da casa.
- - 3. Constituição, pela Porto Vivo, de um sistema de garantia a pedidos de financiamento bancários solicitados por proprietários para a reabilitação dos seus prédios para habitação própria.
- - 4.Constituição de um Fundo de Apoio ao sobre-endividamento, dado que existem muitas pessoas que caíram na armadilha dos cartões de crédito e que estão a pagar taxas anuais efectivas superiores a 26%. O resultado é não conseguirem amortizar o financiamento e estarem a pagar nas prestações apenas o juro, ficando assim presos para toda a vida, com fortes impactos sobre a sua estabilidade pessoal e profissional. A substituição deste financiamento por um plano a prazo de reembolso, com uma taxa de juro moralmente adequada, permitiria, com o mesmo esforço de pagamento, proceder à regularização desta situação num prazo adequado.
- - 5. Fundo de consumo para a Reabilitação Urbana, projecto Multicard System, que é uma rede social para reabilitar humanamente a Baixa, com suporte nas modernas tecnologias de informação e comunicação, sendo uma resposta a este desafio e uma revolução em propostas para a resolução da actual crise financeira e económica, e que se baseia nos seguintes princípios: poupar, para depois consumir e investir na Baixa.
- - 6. Projectos de inclusão social (Hortas e Flores na Cidade e os Sem-abrigo).
- - 7. Projecto de alavancagem financeira a partir da micro-geração.
- - Etc.
Rui Rio e a sua equipa não deram qualquer continuidade a estas propostas que, aliás, foram por mim promovidas para responder a um seu pedido: “… não há no orçamento camarário, verba suficiente para pagar a reabilitação da Baixa do Porto. Mesmo que houvesse um fundo público suficiente, isso seria deitar dinheiro fora. Assim, a resolução deste problema passa por procurar o envolvimento da população e de entidades privadas. Não é suficiente que a Baixa tenha valor, é preciso que tenha utilidade e para isso é preciso que haja envolvimento da população”. Os adeptos do Boavista, os reformados da cidade, os comerciantes da Baixa, os sobre-endividados da cidade, os sem-abrigo, não tiveram conhecimento de que há propostas de soluções para os seus problemas. Podem ser ou não eficazes, mas faça-se alguma coisa!
Rui Rio quer fazer da eleição do próximo dia 11 de Outubro uma escolha entre demolir e não demolir o Bairro do Aleixo. Estas eleições não se resumem ao futuro do Aleixo, mas sim à clarificação do espírito democrático que pretendemos para o nosso Porto. É que há aqui um tique autoritário que eu não aceito. A tal pequena “nuance” e novidade: em caso de vitória, foi claro ao garantir que a demolição será efectuada com mais rapidez e os moradores podem ser realojados em qualquer ponto da cidade. Qual o objectivo? Dividir para reinar. Fazer com que os habitantes do Aleixo se revoltem contra os que quiseram ouvir as suas opiniões sobre o processo, colocando-os numa posição pior do que a proposta anterior. Virando os portuenses uns contra os outros. Não é este o espírito nem o coração da cidade guardado na nossa Igreja da Lapa.
Eu não cedo a chantagens. Ainda bem que existem os blogues como novo espaço de afirmação da liberdade e da democracia.
José Ferraz Alves