De: José Ferraz Alves - "O desrespeito e irresponsabilidade em relação às pessoas do Bairro do Aleixo"
Eu estive no Bairro do Aleixo no passado Sábado à tarde. Encontrei nas suas pessoas muito sofrimento e indignação, dada a indefinição de vidas pessoais provocada pelo enorme desrespeito e irresponsabilidade que a Câmara do Porto está a demonstrar neste processo. Que foi a razão que me levou a ir ao Bairro, ouvir e ver. Tendo também participado em visitas a outros bairros, ditos “sociais”, da cidade do Porto, só neste encontrei residentes que pagaram do seu próprio bolso as obras de beneficiação de espaços, dos quais não são proprietários, mas onde têm orgulho e gosto em morar. E outros, dada a indefinição de vidas, suspenderam obras que estavam em curso, pagas por si próprios. É que, noutros bairros, cheguei a entrar em residências que pediam a candidatos à Câmara que procedessem à reformulação de bancas da cozinha ou para enviar picheleiros para arranjar torneiras… Também vi e ouvi quem queira sair do Bairro, porque o que se passa indigna qualquer um e por isso preferem virar as costas de vez. A presença de um “piquet” da Polícia de Segurança Pública junto à Torre 1 fez com que a tarde de Sábado fosse calma.
Assisti, sobretudo, em oposição a esta irresponsabilidade da Câmara do Porto, a um enorme exemplo de civismo e de responsabilidade pública da parte do Sr. Arquitecto Correia Fernandes, em torno de um apelo pelo respeito para o que cada um dos moradores possa pensar sobre decisões, que são de cada um, para o seu próprio futuro.
Ter uma visão social da política é essencial, sobretudo num Porto que tem tido uma total ausência dessa dimensão no processo de reabilitação, físico, da cidade. O que separa as diferentes alternativas que temos para as administrações municipais do Porto não é a identificação e o ataque aos problemas, que aí estamos todos de acordo, mas sim em qual o modelo para o fazer. Já tinha escrito que podemos todos concordar com a demolição das Torres do Aleixo, mas que há uma grande diferença em fazê-lo se como ataque ao problema do tráfico de droga ou uma resposta às trágicas condições higiénicas, de segurança e de acessibilidades que este errado modelo de construção tenha induzido. O dizer que se "pretende acabar com os cancros dos bairros irrecuperáveis em nome da justiça social e da segurança urbana", revolta-me profundamente, representa um testemunho de falta de capacidade e parece-me mais próxima de uma tristemente e histórica “solução final”. Dentro deste mesmo fio condutor na resolução dos problemas de uma cidade, eu agora já aguardo, sem surpresa, desta Câmara, a proibição de circulação de automóveis no Porto como a forma de resolver de vez a proliferação de arrumadores na cidade.
Sobretudo, há um errado estigma sobre o Bairro do Aleixo que tem, previamente, de ser corrigido antes de proceder ao que quer que seja. Têm de acabar os disparates que têm sido tomados para votar ao ostracismo pessoas que são honestas e trabalhadoras. Não tenho dúvidas de que o Bairro do Aleixo pode vir a figurar na história do Porto como um seu emblema, e que muitos vão continuar a querer afirmar, com digno e justificado orgulho, que são ou foram moradores do Bairro do Aleixo. Há já muitos que o fazem, hoje.
O desleixo em relação às partes comuns dos prédios não é um problema de drogas, muitas vezes são questões económicas, que decorrem do modelo de construção em torre, que acarreta custos de condomínio que depois não são suportados… Existem idosos que estão presos nas suas habitações porque os elevadores das torres não funcionam! Os cadastrados devem ser tratados pela justiça e pela polícia como tal, estejam onde estiverem, vivam onde viverem. Também me parece que o maior problema até está nos descampados próximos da primeira torre, pelo que pergunto e quem são os proprietários daquela parcela de terra e porque nunca foram usados como equipamento urbano, desportivo, para os jovens do Aleixo?
Eu só aceito lideranças construídas pelo respeito, não pelo temor.
José Ferraz Alves