De: Joaquim Pinto da Silva - "O Porto e os Tachos"
Enviada para um jornal, esta opinião não foi publicada. Por isso aqui vai, com um acrescento: nesta altura não tinha a confirmação de que Rui Rio também afirmou que ou ganha ou nunca será vereador de Elisa Ferreira. Isto é, em termos práticos, ambos só admitem ganhar ou mudam de vida, o que me parece perfeitamente aceitável.
Os "dois tachos" da Elisa Ferreira e a Panela de Rui Rio
Estou convencido que, no Porto, o que mais separa neste momento, em termos de escolha eleitoral, Elisa Ferreira de Rui Rio, é o argumento dos 2 "tachos" que, dizem, aquela pretender. Argumento falacioso, fruto duma mesquinhez entranhada de muitos (que sonham e tudo fazem para os poder ter, e alguns têm, isso ou mais), essa asserção tem de ser desmontada rápida e eficazmente.
Elisa Ferreira fê-lo já em carta aberta a Miguel Sousa Tavares, destacando de novo o seu compromisso essencial com o Porto (sendo eleita abandona o Parlamento Europeu, "tacho" onde ganha X vezes mais do que a Presidente da Câmara) e relembrou os casos de Paulo Portas (cabeça de lista ao PE e AR), Ana Manso (PSD) na Guarda, Menezes (PSD) em Gaia, Maria Carrilho (PS) em Lisboa, Honório Novo (CDU) em Matosinhos, todos deputados à Assembleia e candidatos a autarquias a seu tempo.
Mas há um argumento fundamental que o oportunismo político ignorou (e de alguns bem "próximos" de Elisa Ferreira) que é o da coincidência (azar de Elisa) de proximidade de calendário entre as eleições europeias e as autárquicas. Se, por exemplo, Elisa fosse deputada no PE há um ano, e se candidatasse agora à Presidência da Câmara, ninguém utilizaria o argumento, por reforçadamente inválido, e realçaria mesmo a opção de Servir o Porto da candidata: trocava um bom salário e uma função "calma", por um salário muito mais baixo e as preocupações que uma Câmara envolve.
E é isso que é importante salientar. Elisa Ferreira, que aliás não tinha de falar (como muitos o fizeram) tão claramente das suas opções pós-eleições em caso de derrota (foi "excesso" de honestidade), é uma candidata que, em nome dos seus princípios e da sua dedicação à cidade do Porto, está disposta a prescindir de um lugar financeira e politicamente importante, por um outro que apenas é politicamente importante. Esta é que é a outra visão do assunto e é essa que eu valorizo.
Quanto à política pura propriamente dita, Rio está a transformar-se, como infelizmente fizeram outros antes dele, num homem "idolatrado" e "querido" pelo tipo de exercício de poder que utiliza: contenção nas aparições públicas mas exuberância nas notícias e nas fotografias, desprezo absoluto pela opinião contrária, as oposições e, principalmente, a opinião do cidadão, e um conceito de cidade como coutada própria, em que propostas e acções gizadas em grupo restrito não sofrem o crivo necessário do confronto democrático da opinião adversa. Em resumo: uma Panela (no ajustado conceito tripeiro).
Rui Rio pode ser derrotado nestas eleições, e pode-o exactamente pelos mesmos motivos que outros antes deles as perderam… e que ninguém previa. O Porto é bem capaz disso! Diria mais: em Portugal, só o Porto é capaz disso!
6.7.2009
Joaquim Pinto da Silva
Uma certa oposição (alguma parte e outra não, de uma classe média inculta e mal formada) então é verdadeiramente "radical" no seu ataque a Elisa Ferreira. Exigem a uns o que não exigem a outros (agora ou antes), e ficam confortáveis quando encontram um argumento (neste caso "pseudo") para atacar "pela esquerda" uma candidata que traria a mudança que o Porto precisa. E mudança é coisa que eles odeiam… e quase que diria ainda bem, pois a crise ameaça bater mais fundo: perdendo privilégios, pode ser que acordem.
Joaquim Pinto da Silva