De: Ricardo Coelho - "A Ryanair e os salteadores do Palácio"

Submetido por taf em Quinta, 2009-08-27 22:36

No debate que tivemos no Círculo Literário do Porto sobre o projecto de requalificação do Pavilhão Rosa Mota, o presidente da AEP justificou a destruição do lago com os ganhos dos congressos empresariais. O Engº José António Barros admitiu que o novo edifício nos Jardins do Palácio era essencial para viabilizar o negócio porque daria umas excelentes vistas sobre o rio para os congressistas, justificando assim porque não poderia ser o edifício construído noutro ponto da cidade. Por sua vez, os congressos empresariais são fundamentais porque darão um empurrão ao emprego na cidade. Mas nunca foram apresentados números relativamente a quantos empregos serão criados por estes congressos, de forma a podermos avaliar se, de facto, valeria a pena a Câmara endividar-se os viabilizar.

Queria agora chamar a atenção para um pormenor, ou, para ser menos diplomático, uma mentira, que passou no debate. Disse o presidente da AEP que uma das condições que a Ryanair colocava para implementar uma nova base no Porto era a criação de um grande centro de congressos no Porto. Isto desde logo soa a estranho - eu, pelo menos, não imagino os empresários a voar em low cost. Mas a mentira desfez-se ontem, quando se soube que a tal base da Ryanair será inaugurada já nos próximos dias, muito antes do previsto início das obras que vão arrasar os Jardins do Palácio. Ou seja, a decisão está tomada e obviamente não será revertida se os cidadãos do Porto rejeitarem as novas construções nestes jardins.

Num país em crise, quando tudo o resto falha esgrimem-se promessas de crescimento económico para justificar todo o tipo de esbanjamento de dinheiros públicos. Assim foi com a nova construção nos Jardins do Palácio, justificada com o empurrão que dará ao turismo. Mas os Jardins do Palácio, tal como estão, são uma atracção turística que, conjuntamente com o resto do património da cidade, com a Casa da Música, com os Museus Soares dos Reis e de Serralves, etc., podem realmente permitir-nos criar um pólo de turismo de qualidade. Já perdemos o Palácio de Cristal, que poderia hoje ser uma das maiores atracções turísticas do país. Saibamos ao menos manter aquilo que ainda temos de bom no Porto.
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Ricardo Coelho