De: José Ferraz Alves - "Barragem do Foz Tua"
Caro Sr. Nuno Brito Jorge
Agradeço a sua opinião, que respeito. Convenhamos parecer-me que a falta de respeito por outras opiniões, as das populações locais, as que ainda existem, tem sido característica bem nos genes de quem está a brincar com um país e com uma natureza que não são propriedade sua. Não resisto a confessar que não gostei da referência que faz a (des)informação, quando temos do outro lado campanhas publicitárias de projecção de vida animal e natural nas paredes de betão das barragens e ainda por cima pagas pelas próprias compensações que a EDP concedeu atribuir ao desenvolvimento artístico e cultural das populações afectadas pela sua construção, conforme reconhecido por um administrador da sua Fundação Social, em entrevista ao Semanário Sol que guardo como prova. Ou a actual promessa de dezenas de milhar de postos de trabalho para uma sub-região já polvilhada de barragens e que é a mais pobre da UE 27.
Com um pouco mais de detalhe, e reconheço que com mais coração do que razão, escrevendo a muitos kms de distância, informo que a Rede Norte já colocou no terreno as competências que tem na blogosfera para poder vir a apresentar, se o entender, uma posterior resposta mais fundamentada e que a vincule, pelo que os pontos seguintes são da minha responsabilidade pessoal;
1. Parece-me irrelevante se a distância são 1.000 metros, pelo menos reconheça-nos que fomos ao terreno e é lá que se vê o impacto na natureza, não nos gabinetes de uma qualquer capital do império, via Google. Já chegava termos jornalismo feito via Google, só faltava virmos a ter os nossos projectistas e engenheiros a seguir este exemplo. Porque sobre os decisores não tenho dúvidas da distância que os separa da realidade.
2. Já agora, há quem resolva o problema de sub-utilização das eólicas sem precisar de construir barragens. Via Google, podemos encontrar o exemplo Dinamarquês e a rede de alimentação das baterias de veículos eléctricos.
3. No comentário que é feito, já se reconhece uma confirmação gravíssima, que já me foi entretanto transmitida, a da submersão da via ferroviária, à cota indicada. Se a linha do Tua tiver o seu acesso cortado à do Douro, isso vai significar a sua morte.
4. O que interessa ter uma linha não submersa a jusante da que se reconhece vir a sê-lo? Para museu ferroviário, com simulações virtuais da YDreams? A ligação à linha do Douro é vital para a ligação à do Tua e daí para Bragança e Puebla Sanabria e 1h30 de Madrid. Para desenvolver a região.
5. A oferta de camionetas e de táxis já é bem conhecida de varias populações que passaram pelo mesmo que vão querer fazer ao Tua, bem como a sua posterior extinção uns meses depois. Conversa do costume, para evitar protestos das populações. Depois do facto consumado, já ninguém quer saber de nada.
6. A luta jurídica pelo que é o espírito e a letra da lei também já é bem conhecida, mas aí pelo país todo, e já nos preparamos para saber que transportar pessoas em barcos e por estrada tem o mesmo efeito na esfera de utilidade dos utilizadores do que por caminho de ferro. Sobretudo quando temos quem defenda investimentos para se ir namorar a 40 kms/hora pelas estradas do Douro.
7. Sobre benefícios das barragens, saiba que estou profissionalmente a trabalhar num excelente exemplo, o oposto, de águas que foram mortas por mini-hídricas e que agora se pretendem reconverter para destino turístico, por isso saiba que, não sendo um ecologista, fiquei profundamente revoltado com o que vi, cheirei e não ouvi, porque está tudo morto.
8. Aceito que o muro de betão só tenha 100 metros de altura e espero que os mesmos efeitos visuais da campanha televisiva, sendo que será bonito ver o muro a fazer uma curvatura, quem sabe capaz de ganhar um qualquer Nobel da engenharia civil e hidráulica, capaz de rivalizar com o Património de Humanidade da Unesco que se coloca em risco.
Cumprimentos
José Ferraz Alves