De: José Silva - "Distinguir o trigo do milho evita raciocínios em «loop»"

Submetido por taf em Quinta, 2009-08-20 17:26

- Jornal de Negócios Online - "O Banco Carregosa (sede no Porto) vai abrir uma sucursal em Madrid até ao final deste ano, revelou ao Negócios Pedro Duarte, presidente executivo da instituição financeira."

José Ferraz Alves afirmava há dias, em entrevista à RTV, que havia poupança nos balcões bancários do interior Norte que não eram canalizados para projectos locais. Sugeria a criação de um Banco Regional. Ora, o que acontece na realidade é que um banco de investimento sediado no Porto trata de abrir sucursal em Madrid e internacionalizar-se em vez de rumar ao interior Norte. O mesmo dilema preocupava, há dias, Rui Valente e Rui Farinas relativamente à Sonae. Provavelmente, Belmiro emprega mais lisboetas do que portuenses. Porquê esta aparente contradição? O problema destes amigos bloggers é que não compreendem que a actividade económica pode ser dividida de várias formas e uma delas é a divisão considerando a origem territorial da procura. Neste caso teríamos os sectores dependentes da procura Local/Regional e sectores dependentes da procura Nacional/Internacional, isto é, fora da região onde está situada a empresa / negócio / organismo. Exemplifiquemos.

Sector de procura Local/Regional:

  • - Transportes, públicos e privados, de passageiros e mercadorias, com rede local/regional (taxistas, STCP, TUBraga, Internorte, Metro do Porto, Aeronorte, TransMaia, etc);
  • - Hospitais, clínicas, médicos e afins independentes, públicos ou privados (ex.: Hospital da Trofa);
  • - Portos e aeroportos individuais;
  • - Comércio local, restauração, farmacêuticos individuais;
  • - Ensino (Infantários, Escolas, Universidades, públicos ou privados;
  • - Pequenos promotores imobiliários, empresas CCOP, e gabinetes arquitectura/engenharia (grande parte dos leitores d'A Baixa do Porto);
  • - Clubes desportivos locais;
  • - RTV, PortoCanal, BragaTV, DouroTV, rádios locais, semanário Grande Porto, Diário do Minho, imprensa local, etc;
  • - Proprietários de imóveis (via valorização da propriedade e possibilidade de arrendamento) e empresas gestoras de condomínios;
  • - Delegações locais dos fornecedores Bens e Serviços não Transaccionáveis (sucursais de bancos, seguros, energia, telecomunicações, correios, repartições de finanças, e da segurança social, lojas, super e hipermercados individuais, etc);
  • - Independentes ou pequenos contabilistas, advogados, auditores.

Sector de procura Nacional/Internacional:

  • - Grandes promotores imobiliários e lobby betão (Soares da Costa, Mota Engil);
  • - Grandes cadeias de distribuição (Sonae);
  • - Hotelaria;
  • - Exportadores;
  • - Sede dos fornecedores de Bens e Serviços Não Transaccionáveis (Bancos, GALP, EDP, PT, ZON, CTT, BRISA, Administração Central, etc)
  • - Grandes contabilistas, advogados, auditores, consultores (PWC, Accenture, A Vieira de Almeida, etc)
  • - Sede dos grupos de saúde e administração central da saúde;
  • - FCPorto, Sporting, Benfica;
  • - TVI, SIC, RTP, Antena 1, Público, JN, DN, etc.
  • - Transportes de passageiros públicos e privados, passageiros e mercadorias de âmbito nacional (Luis Simões, TAP, CP, etc)

A Blogosfera Regionalista, a Rede Norte, os cidadãos legitimamente interessados e preocupados com o seu futuro no território onde actualmente vivem, têm de perceber de uma vez por todas que é impossível esperar dos agentes económicos cujo mercado é Nacional/Internacional qualquer sensibilidade para a equidade no desenvolvimento territorial. Para eles, naturalmente, não interessa onde está situada a procura ou a riqueza. Se querem solidariedade, se querem convencer alguém, se querem apoio, têm de se orientar para todos aqueles que estão no primeiro sector. É este o nosso mercado. É importante distinguir o trigo do milho para evitar raciocínios em «loop».

José Silva - Norteamos