De: José Ferraz Alves - "A pressa no «acudir» às pessoas do Bairro do Aleixo"
Pontos prévios:
1. Do ponto de vista estritamente financeiro, só faz sentido vender terrenos em Agosto de 2009 se entendermos que os próximos meses vão ser, a este nível, ainda piores do que os últimos, de profunda crise nos mercados imobiliários. Sendo essa decisão, ainda por cima, tomada por quem quer influenciar o rumo da governação no país, a mesma demonstra pouca confiança nas suas própias capacidades de reversão da actual situação económico-financeira.
2. Ter uma visão social da política é essencial, sobretudo num Porto que tem tido uma total ausência dessa dimensão no processo de reabilitação, físico, da cidade. O que separa as diferentes alternativas que temos para as administrações municipais do Porto não é a identificação e o ataque aos problemas, que aí estamos todos de acordo, mas sim em qual o modelo para o fazer. Já tinha escrito que podemos todos concordar com a demolição das Torres do Aleixo, mas que há uma grande diferença em fazê-lo, se como ataque ao problema do tráfico de droga ou uma resposta às trágicas condições higiénicas, de segurança e de acessibilidades que este errado modelo de construção tenha induzido. O dizer que se "pretende acabar com os cancros dos bairros irrecuperáveis em nome da justiça social e da segurança urbana", revolta-me profundamente, representa um testemunho de falta de capacidade e parece-me mais próxima de uma tristemente e histórica “solução final”.
3. Sobretudo, há um errado estigma sobre o Bairro do Aleixo, que tem, previamente, de ser corrigido antes de proceder à deslocalização dos moradores. Porque também entendo que uma parte da solução passa pela mudança dos que a queiram fazer.
4. Também me parece que o maior problema até está nos descampados próximos da primeira torre, que pergunto e quem são os proprietários daquela parcela de terra e porque nunca foram usados como equipamento urbano, desportivo, para os jovens do Aleixo.
5. O desleixo em relação às partes comuns dos prédios não é um problema de drogas, muitas vezes são questões económicas, que decorrem do modelo de construção em torre, que acarreta custos de condomínio que depois não são suportados… Existem idosos que estão presos nas suas habitações porque os elevadores das torres não funcionam!
6. ... E os cadastrados devem ser tratados pela justiça e pela polícia como tal, estejam onde estiverem, vivam onde viverem.
7. Por outro lado, de uma vez por todas, deve-se terminar com a designação de habitação social e substituir por bairro, por bons bairros, dado que as cooperativas da cidade mostram bem como se pode construir “habitação social“ de qualidade.
Concluindo, o modelo de resolução do problema que considero fazer sentido e a diferença, por todas as causas que discrimino, é, parcialmente, o do Dr. Paulo Morais, “Paulo Morais acusa Câmara de entregar Aleixo ao Bandido”, “ .. deveria ser a autarquia a assumir o realojamento das famílias do Aleixo, estimando que se gastaria cerca de 1% do orçamento camarário neste processo, … e com esta decisão a Câmara ficaria liberta para fazer um jardim ou um parque naquele magnífico local fronteiro ao Rio Douro … ou, em alternativa, mais tarde, poderia recorrer à hasta pública tendo como base o custo do realojamento”.
Apenas com a diferença de que nem todas as torres precisam de ser demolidas. Por todos estes disparates que têm sido tomados para votar ao ostracismo pessoas que são honestas e trabalhadoras, não tenho dúvidas de que o Bairro do Aleixo pode vir a figurar na história do Porto como um seu emblema. E puxo o meu lado mais romântico, de querer acreditar que ainda muitos vão querer afirmar com digno e justificado orgulho que são ou foram moradores do Bairro do Aleixo. Termino com o que ouvi do Dr. Hélder Pacheco, ontem, “a cidade está em todos os sítios, o bem e a dignidade estão em todos os locais.”
José Ferraz Alves