De: Campo Aberto - "Defendamos os Jardins do Palácio de Cristal!"
Campo Aberto opõe-se à adulteração dos jardins e sua transformação área de negócios, e lembra que existem alternativas
A 23 de Junho de 2009, o Executivo da Câmara Municipal do Porto aprovou uma intervenção no Pavilhão Rosa Mota com os votos favoráveis do PSD, CDS e PS. A notícia seria boa se estivesse meramente em causa a recuperação do espaço para utilização em eventos de lazer, desporto e cultura abertos à população. Mas o projecto envolve, além da recuperação do Pavilhão, a construção de um novo edifício que se estende desde aquele até à Capela de Carlos Alberto.
Com esta nova construção destrói-se de forma irreversível uma parte do jardim com cinco décadas: treze árvores adultas serão derrubadas (3 Sóforas e 10 Ciprestes-de-Leyland) e 17 outras estarão em risco de sobrevivência devido às obras (sete Cedrus deodara, um Castanheiro-da-Índia, um Liquidâmbar, dois Salgueiros, um Plátano, um Pinus radiata, um Acer campestre, um Acer negundo e duas Magnólias-de-Soulange). O lago (apelidado de “charco” pelo arquitecto José Carlos Loureiro, responsável pelo projecto) será rodeado por uma construção que descaracterizará a zona, transformando uma zona verde numa muralha de betão.
Nada justifica a construção de um edifício para congressos com cerca de 2500 m2 num dos mais extraordinários jardins de que a cidade dispõe. Existem aliás a curto espaço de tempo tanto a Exponor como o Europarque, com excelentes condições para o tipo de congressos que se pretende atrair. Se a existência de boas vias de comunicação é motivo para se encerrarem urgências hospitalares, cremos que o mesmo argumento justifica a não multiplicação de equipamentos com funções semelhantes num território como o da Área Metropolitana do Porto. Em alternativa, e apenas se isso se justificar em termos de procura, a Campo Aberto sugere a construção de um edifício de raiz numa área deprimida que precise de uma âncora ser recuperada. Não seria difícil imaginar, por exemplo, a demolição do silo-auto, um verdadeiro cancro no centro da cidade, ou a reconversão de prédios devolutos na rua Mouzinho da Silveira.
De notar que o projecto camarário não poderá avançar sem uma alteração do Plano Director Municipal, visto que este consagra os jardins do Palácio de Cristal (naturalmente) como zona verde pública. Trata-se de um processo algo moroso e que obriga à realização de uma fase de participação pública. Esta determinação do PDM não é um acaso: faz todo o sentido que as zonas verdes sejam sossegadas. O que o município pretende é uma adulteração profunda da razão de ser daquele espaço, transformando um local de lazer e descanso numa área de negócios. Os portuenses não merecem semelhante dislate!
Desde que a gestão dos jardins do Palácio de Cristal foi retirada à Porto Lazer e de novo entregue ao Pelouro do Ambiente da Câmara as melhorias têm sido evidentes. Não se repetiram as podas violentas das tílias - contra as quais a Campo Aberto já se havia pronunciado -, novos arbustos e árvores têm sido plantados e criou-se um novo jardim (o Jardim das Cidades Geminadas). Com a infeliz ideia de construir um edifício em área ajardinada, a Câmara do Porto inverte a tendência de melhoria que se vinha verificando e demonstra um total desrespeito pelo património da cidade.
A Campo Aberto apela à Câmara Municipal do Porto para que tenha um pouco de bom senso e altere o seu projecto abolindo a construção de edifícios nos Jardins do Palácio de Cristal – mantendo, contudo, a renovação estrita do Pavilhão Rosa Mota. Apelamos ainda ao IGESPAR, no âmbito das suas competências, para que não aprove o projecto proposto pela autarquia e impeça assim a destruição de uma parte importante dos jardins.
Em qualquer dos casos, é imprescindível que o município seja coerente com a política de sustentabilidade a que recentemente se comprometeu, não deteriorando os espaços verdes da cidade e precedendo sempre qualquer alteração relevante de um amplo debate público.