De: José Paulo Andrade - "O Palácio de Cristal e o síndrome da «horta de Serralves»"
Pelo que eu li sobre o projecto sobre o Palácio de Cristal parece-me que o objectivo é dotar a cidade do Porto da capacidade de conseguir albergar congressos internacionais com vários milhares de participantes. Para uma cidade média europeia como o Porto é fundamental ser competitiva no "mercado" europeu e mesmo mundial dos congressos. Esta actividade, aliada ao turismo que arrasta, é nalgumas cidades europeias fundamental para a sua economia. Para almejar tal objectivo o Porto precisa de ter um centro de congressos com condições logísticas, isto é, várias salas, pavilhões e restaurantes para acolher simultaneamente milhares de congressistas.
Ora, parece-me que a reacção às obras de remodelação já aqui discutidas está a levar àquilo que denomino de “síndrome da horta de Serralves”. De facto, quando começou a ser feito o Museu de Serralves lembro-me que existiu um movimento a favor da preservação da horta dado que estava a ocorrer um atentado grave ao meio ambiente. Encontrei uma dessas opiniões ainda disponíveis pesquisando no Google que rezava o seguinte:
"Quando um museu de arte moderna destrói a horta de Serralves, destruindo assim a unidade de uma das últimas quintas de recreio do Porto (fazendo perder sentido ao todo que lá existia) o edifício pode ser a oitava maravilha do mundo e criar um espaço magnífico, admita-se em tese que seja melhor até que o relevo cultural de uma das últimas quintas de recreio do Porto, mas será sempre sobre um acto de destruição patrimonial que se terá erguido o novo património."
Quem se lembra disto agora quando existe um excelente museu com recorde de visitas nacionais e internacionais em vez da horta que poucos visitavam? Aliás, pouca gente usufrui dos espaços verdes cheios de árvores disponíveis no Porto. Veja-se o Jardim das Virtudes, quase sempre deserto e com um bonito exemplar de um Ginkgo biloba. Ou o Jardim de S. Roque da Lameira com um interessante labirinto.
Uma cidade como o Porto não pode ser imóvel. Têm de existir mudanças e dinamismo para atrair pessoas e movimentar a economia, factor essencial para a sobrevivência e adaptação a uma Europa competitiva. O que é melhor: um pequeno jardim local, actualmente não muito utilizado com um pavilhão degradado e não funcional, ou um Centro de Congresso moderno com potencialidades para atrair milhares de pessoas por ano?
José Paulo Andrade