De: José Ferraz Alves - "Cidades e artificialidades"

Submetido por taf em Terça, 2009-06-02 00:35

1. O concelho de Paredes pretende vir a acolher uma cidade tecnológica, denominada Planit Valley, que ocupará uma área de 17 quilómetros quadrados e que será um "laboratório vivo à escala urbana", no qual serão implementadas, de forma sustentável, "tecnologias que melhoram a qualidade de vida". A Planit Valley terá "edifícios inteligentes, soluções avançadas de mobilidade, transportes e comunicações". Além de espaços dedicados à investigação e desenvolvimento, na Planit Valley vão nascer também espaços de retalho, hotéis, centros de conferência, uma pista de testes, um centro de entretenimento e habitação. "As razões que levaram à escolha de Portugal para a instalação desta cidade sustentável prendem-se não só com as políticas nacionais sobre o ambiente, mas também com o apoio que a Living Planit encontrou junto dos autarcas de Paredes, da CCDR-N e da agência de investimento AICEP", tendo sido referido que o seu financiamento será exclusivamente externo à esfera pública.

2. A construção da nova cidade deverá começar este ano, apesar da crise económica mundial. Já agora, não esqueçamos de que há centenas de milhares de habitações desocupadas em Portugal e dezenas de milhar a necessitar de uma urgente reabilitação.

3. Tendo já referido a desarticulação que encontro entre os discursos teóricos sobre a regionalização e o efeito concreto das medidas no terreno, este é um projecto que poderá fazer sentido desenvolver-se dentro do perímetro de reabilitação urbana do centro histórico do Porto e não com o intuito de criar uma nova centralidade urbana. É um projecto com muito mérito e potencial demonstrador do que seria uma reabilitação dos espaços de retalho e centros de habitação, um verdadeiro “living lab” em espaço urbano, com recurso a um forte investimento em TIC, e resultar num efeito demonstrador mundial capaz de catalisar fluxos de peritos urbanísticos, historiadores, arquitectos, geógrafos, artistas, turistas, estudantes e empresas.

É mais fácil construir de novo do que reabilitar. Mas este projecto só será efectivamente desafiante se for desenvolvido num espaço urbano a reabilitar. Paredes tem a sua função no espaço da região Norte, e os seus responsáveis têm muito mérito na concepção do projecto, mas não me parece claramente que, depois, tenha de passar por mais uma obra faraónica e geradora de mais estátuas na Terra.

José Ferraz Alves
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Nota de TAF: Nada tenho contra projectos ambiciosos, mas este parece-me especialmente estranho. Além de características para mim dificilmente compreensíveis (uma pista de testes da McLaren?! Então por exemplo o autódromo de Braga, alí à beira, ou o do Estoril?), o que eu vejo não inspira confiança: um promotor que é sócio gerente de uma micro-empresa que desde 2008 não consegue ter um site a funcionar - embora já tenha havido evoluções desde Quinta-feira passada - a querer lançar um projecto de 13 mil milhões de euros, e que escolheu Portugal por causa do “profissionalismo de Celso e da Ana" (sic). Ver para crer.