De: José Ferraz Alves - "Carta aberta à Associação de Cidadãos do Porto, Braga e Aveiro - Tua e artificialidades -"

Submetido por taf em Quarta, 2009-05-13 22:46

Caras Associações

Eu vou ser muito sincero e directo.

O processo dinamizador das indústrias criativas juntou muitas entidades e personalidades em Serralves. Por sua vez, o Presidente da Junta de Paranhos lançou, ontem, o HUB do Porto. Eu vi lá muitos notáveis, de outra estirpe, que não são as mesmas pessoas de Serralves.

Custa-me estar a viver e a contribuir para a criação de situações artificiais, por muito louváveis e meritórias que o sejam, e deixar cair, por egoísmo e miopia, as situações e os apelos reais, para as quais nada fazemos. Entretanto, só porque não está ao alcance dos nossos olhos e, sobretudo, por não ser uma luta originada por nós, deixamos engenheiros construir uma barragem que vai contribuir para "reduzir a nossa dependência energética de combustíveis fosseis", e matamos todo um potencial de ligação turística e de mercadorias do Porto de Leixões até Salamanca, que efectivamente rompa com a interioridade e potencia o nosso desenvolvimento regional?

É nisto que dá ir debater a regionalização a todos os lados onde o assunto é aflorado? Ficamos depois cansados na hora da verdade. E a defesa dos nossos problemas e das nossas causas bem reais? Isso dá trabalho e é pouco visível? Eu estou farto de "fetiches de engenheiros" com as suas barragens. Que Conselhos de Administração ausentes e distantes decidam mais do que poderes eleitos como, por exemplo, o Sr. Presidente da Câmara de Mirandela. Estou cansado de ouvir arquitectos, engenheiros e economistas a falar de reabilitação da cidade como se isso tivesse a ver com obra física, quando a reabilitação que é precisa é a social, de criação de negócios de proximidade, de desenvolvimento de projectos que criem emprego, de afirmação nos mercados internacionais, de retenção de riqueza na cadeia de valor... e depois a recuperação física aparece feita. Estou farto que se peguem nessas discussões, dando um triste espectáculo de supostas rivalidades ou ajustes de contas do passado,

Eu peço a todos que nos unamos e façamos as redes e as Associações da Região Norte falar em defesa e apoio a uma pessoa e a uma causa que foram deixadas sozinhas nesta luta, "o Sr. Presidente da Câmara de Mirandela e a manutenção da linha de caminho de ferro do Tua". Destrói-se a nossa história, o nosso ambiente e nós estamos aqui a ver se criamos mais razões de luta e de existência das Associações... Perdoem-me, mas artificialidades não são causas e são um bom exemplo de falta de altruísmo na luta contra efectivas injustiças. Não sejamos míopes e percebamos quando outros precisam da nossa ajuda. Nem todos precisam de estátuas na Terra.

O Douro, o Porto, o Norte e o país vão beneficiar com esta linha a funcionar. Não se sentem revoltados quando bandos de advogados se preparam para defender em tribunal que o espírito que está subjacente à necessidade da EDP reconstruir, a outra quota, a linha do Tua, tem a ver com a essência do serviço a prestar e que esse pode ser feito por barcos? Apenas para evitar custos excessivos à EDP. E o que pensam desta mesma empresa poder fazer mais pela nossa competitividade nacional se reduzisse as suas tarifas para o nível do praticado por nossos concorrentes empresariais, nomeadamente em Espanha, do que em criar com os excessos de resultados da sua actividade Fundações e outras artificialidades dedicadas a causas e à responsabilidade social? Não faria mais por essas causas se fosse mais justa nos preços que pratica, com isso contribuindo para não asfixiar tanto os seus clientes empresariais e particulares, sem ser depois preciso ir atrás com ajudas sociais? É que as entidades empresariais focam a sua atenção na rubrica Custos com Pessoal, quando a sua sobrevivência depende mais dos tais FSE's, onde os custos com energia são variável marcante, do que das despesas com pessoal cuja função final é alimentar a dimensão do seu próprio mercado interno de clientes...

É possível criar uma rede ferroviária entre Leixões e Salamanca que até seja sustentável financeiramente e essa é a forma, pela positiva, do Sr. Presidente da Câmara de Mirandela liderar a última hipótese que terá de evitarmos um erro irrecuperável. Com as redes e as Associações a unirem-se em torno desta causa.

José Ferraz
ACdPorto