De: Raquel Pinheiro - "Das garagens, dos quintais, do mais do mesmo, dos centros comerciais, do Porto e de Lisboa"
Tendo em consideração os vários posts dos últimos dias aqui no A Baixa do Porto, vou fazer uma lista de perguntas-notas relativas a alguns temas em discussão:
1 – Relativamente ao estacionamento, tal como o Nuno Oliveira, pergunto se é, de facto, necessário, para se viver na Baixa “Um transporte individual para cada morador (e lugar para o pôr)”. Tiago, em relação a na Rua do Almada haver prédios com largura para entrada de um carro, e assim levar o mesmo até ao quintal, a questão é que, em certas partes da rua (se não mesmo em toda a rua), os quintais não ficam ao nível da entrada do prédio. Tome-se como exemplo aquele onde está a Casa Almada. O quintal fica em dois níveis, nenhum deles no rés-do-chão, sendo mesmo que a parte mais profunda se encontra no último andar, sobranceiro à Pedreira da Trindade.
Cara SSRU, obrigada pelo simpático comentário. Eu sei que por Santa Catarina, Passos Manuel, etc viveu gente durante muito tempo. Mas à data do meu nascimento já não eram assim tantas as famílias que por aí viviam pois já estavam, como indica no seu post, estabelecidas nas Antas, Foz, etc. E, certamente muitas famílias hão de ter morado no edifício em frente ao Coliseu. Isso antes de 1938, pois o edifício em frente ao Coliseu é a Garagem Passos Manuel, da autoria de Mário Abreu, datado da década de 30.
Não sabendo até que ponto se pode “explorar” o subsolo para aí criar estacionamento, não me agradando que os quintais-jardins possam deixar de o ser para aí se aparcarem automóveis, e tendo especial gosto por grandes garagens, será possível, dado que há muitos quarteirões com vários prédios seguidos em estado ruinoso-abandonado, transformar esses prédios em garagens de estacionamento comum aos residentes nessa mesma área? E é preciso não esquecer, como já o disse antes, que a par do pensar o estacionamento é preciso pensar o reabitar e o reabilitar a habitação, mantendo as características das várias zonas da cidade.
2 – Do mais do mesmo, concordo com o Alexandre Burmester quando diz que “de nada adiantará continuarmos a falar a muitas vozes, a fazer debates ou a perder latim se não tivermos Poder, e não formos capazes de fazer inverter políticas e de provocarmos outras.” A regionalização é a mesmo necessária? Digo desde já não ser uma ideia com que simpatizo por aí além mas se for a solução para que ao Porto e o Norte seja dado-conquiste o lugar que merece, e se a mesma se fizer tendo como base as já muitas instituições e meios existentes, estarei disposta a considerá-la como uma hipótese crível. Porque, tal como ao Alexandre, preocupa-me que não haja uma união de esforços, que as políticas de reabilitação da Baixa, da Cidade, do Norte, não tenham um propósito comum. No entanto, como se faz isto tudo sem os partidos? E se é com os partidos como se consegue ter políticas pensadas, e implementadas, com objectivos a 20, 30, 40 anos? Isso de um executivo fazer e o seguinte desfazer, mesmo quando a coisa está bem, não funciona. Que medidas práticas podemos tomar para termos efectivamente o poder de mudar, de dar um rumo ao Porto (à Região)?
3 – O link da notícia que o Tiago colocou sobre o Trindade Domus Gallery, e pensando no ruído à roda do Dolce Vita Tejo, é de mega-centros comerciais que estamos a precisar? Quem autoriza estas coisas? Não é o surgimento de tais empreendimentos prova de que as cidades, o país, não está a ser pensado aos tais 20, 30, 40 anos? Por um lado, o Trindade Domus Gallery, como refere a notícia, “prometia revitalizar a Baixa do Porto” – o que não aconteceu –, por outro, o El Corte Inglés – que gera de facto fluxo de pessoas –, não se instalou na Baixa pois isso poderia prejudicar o comércio tradicional. Confesso que não compreendo muito bem as decisões seguidas em tal matéria. E, a ter de escolher um empreendimento desse tipo para se instalar na Baixa, apostaria no El Corte Inglés.
4 – Quanto ao Porto e a Lisboa, Lisboa está no topo do País. Está é num estado lastimoso, como refere Manuel Falcão no seu blog A Esquina do Rio. A Cristina Santos tem razão ao dizer que todo o País se sacrificou para que Lisboa “de tão desenvolvida pudesse carregar Portugal inteiro às costas”, coisa que, sabemos bem, não aconteceu. Santos também aponta que o Porto até vai andado direito e que talvez um dia venha a descobrir a Europa. Pois é exactamente o que o Porto precisa de fazer, descobrir a Europa, ter consciência da valor do seu nome, saber como lhe pode fazer chegar os tais milhões europeus, como se pode impor, como nome e como “marca”. Ainda que, para isso, acho que tenho que voltar a remeter para o post do Alexandre e quase, quase, acabar a dizer-lhe que concordo com a regionalização.