De: Raquel Pinheiro - "Das Garagens no Centro da Cidade – Automóveis no Centro"

Submetido por taf em Segunda, 2009-05-04 23:24

O post aqui colocado, proveniente do Delito de Opinião, da autoria de J.M. Coutinho Ribeiro, levanta-me algumas questões e notas:

1 – Se há autocarros junto ao emprego porque é que é preciso levar o carro para “uma deslocação não prevista” e porque é que havendo metro tal não seria necessário? Um táxi não serviria para colmatar a deslocação não prevista?

2 – A causa de desertificação da Baixa foi mesmo as pessoas terem ido viver para a periferia da Cidade? De certo modo, sim. Mas a Baixa – entendida no sentido de Santa Catarina, Aliados, Carmo - nunca foi um local de muita habitação. Era local das compras, dos Serviços (correios, bancos, seguros, hotéis, etc.) e das compras. As pessoas viviam junto à Baixa – pelas zonas de Cedofeita, Santo Ildefonso, São Lázaro, Sé, Ribeira entre muitas outras áreas mas, salvo excepções, não exactamente na Baixa, Baixa. A desertificação da Baixa é inerente à desertificação da cidade. Sempre foi normal viver-se noutro espaço da Cidade ou dos arredores desta e trabalhar-se na Baixa ou vir-se à Baixa às compras.

3 – Como se pode fazer garagens, mantendo-aproveitando os quintais – que tão importantes são e que deveriam estar cuidados – se a generalidade dos quarteirões “antigos” é fechada nos quatro lados por prédios/casas? Não há “back-side lanes”. Pense-se no quarteirão de Passos Manuel, Sá da Bandeira, 31 de Janeiro, Santa Catarina. Ou no da Avenida dos Aliados, Rua do Doutor Magalhães Lemos, Rua de Ramalho Ortigão. Ou no da Cândido dos Reis, Carmelitas, Rua da Fábrica, Rua Conde de Vizela. Ou no quarteirão acima deste. Ou em muitos outros do mesmo género. Nuns casos nem sequer há quintais, apenas pequenos pátios de cimento pois as traseiras dos prédios quase se tocam, noutros a construção a preencher os quatro lados dos quarteirões, sendo que muitos dos rés-do-chão são lojas. Esta tipologia, onde os quintais ficam entalados entre os prédios dos quatro lado dos quarteirões aplica-se um pouco por toda a cidade. Na falta de pequenas ruas-vias que permitam o acesso aos quintais como é possível construir nos mesmos garagens?

4 – Indo – mais uma vez – a modelos estrangeiros, passa pela cabeça de alguém que vá viver para Manhattan pensar em casas com garagens? Sendo verdade que quando os centros urbanos da maioria das cidades foram construídos ou não havia automóveis ou estes eram escassos, não estaremos a querer o impossível? Não seria melhor usar a máxima aristotélica de se fazer o melhor possível com o que existe do que tentar, à moda de Platão, construir uma cidade “perfeita”? Sendo que as casas não foram construídas originalmente com garagens a verdade é que se construíram várias grandes garagens. Algumas delas ainda existem – Rua Passos Manuel, Rua do Almada, etc. Estão a ser bem usadas? Os horários e os preços são compatíveis com a vida moderna? Outras foram destruídas ou estão fechadas e algumas servem de central de camionagem – como a da Rua José Falcão. Ora aí está uma boa questão, que faz uma central de camionagem numa garagem de uma rua tão estreita como a José Falcão? E os muitos parques de estacionamento? Se não existe, não se poderá arranjar um esquema suficientemente económico para os moradores da zona? É que a ser (mesmo que fosse) possível, a construção das garagens tem custos.

5 – A ideia que tenho do Porto é que, ao contrário do que sucede em Lisboa, há muito mais gente a viver na cidade e ir trabalhar para fora desta do que o contrário. Os portuenses tendem a trabalhar em Gaia, Matosinhos, Gondomar, Valongo, Braga, Leça, etc.

6 – As ruas da Baixa já não estão assim tão desertas como isso ao fim da tarde e a insegurança também me parece um pouco exagerada. E não me lembro de, em criança, ir à Baixa à noite, tirando na altura do Natal. Lembro-me de ir à Baixa amiúde durante a semana e aos Sábados de manhã e de tarde. À noite e aos Domingos ficava-se por casa.

7 – Concordo que a questão é mesmo a “reabilitação urbana” ter “forma de criar condições para que os automóveis possam estar lá e não precisem de ser utilizados”. Não creio é que, pelas razões apontadas no ponto 3 seja possível construir garagens nos quintais. Por isso, qual é a solução?

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Nota de TAF: A minha sugestão era a de lugares de aparcamento ao ar livre no interior dos quarteirões, em piso não impermeabilizado. É mais simples e não implica grandes mudanças. Vai havendo alguns acessos às traseiras dos prédios, mesmo em Passos Manuel, nos Aliados ou em D. João I, por exemplo. Mas a solução adequada para os acessos era a gestão do espaço ser feita a nível de quarteirão, e não edifício a edifício.