De: Raquel Pinheiro - "Porto vs Manchester – Reabilitação de uma 2ª Cidade"
A propósito dos meus desabafos, algo impacientes, no Twitter, gostava de saber o que pensam do que tem sido escrito sobre as recomendações feitas à Câmara (e à cidade) do Porto pelos responsáveis da reabilitação de Manchester.
Aquilo que escrevi no Twitter, de ser necessário virem uns estrangeiros dizer o que qualquer portuense com olhos de ver é capaz de se dar conta, para que tal apareça nos jornais, parece-me pertinente. Precisamos mesmo que nos apontem o óbvio, como o referido por Eddie Smith, a propósito de Gaia: “Eu não sabia que aquilo era outra cidade e os investidores também não sabem, nem querem saber. Para eles, é Porto.” Ou de sermos lembrados que mudar as “pessoas para a periferia” não é boa ideia? Quanto ao que diz David Quayle “O sucesso na reabilitação urbana depende da liderança. Como se põem os municípios a trabalhar em conjunto? Ninguém o vai fazer por vocês. De onde vem o dinheiro? Vai ser preciso muito. É preciso uma liderança forte para ir a Lisboa e a Bruxelas e exigir. A menos que alguém esteja disposto a isso, não vai acontecer, porque ninguém o vai fazer por vocês”, não podia estar mais de acordo.
Mas a minha questão-dúvida reside mesmo em saber se precisamos de “mandar” vir pessoas de fora para nos darem lições, se por nós próprios não somos capazes de chegar às mesmas conclusões. Ou se mesmo que o sejamos, porque necessitamos de validação externa-estrangeira e damos mais ouvidos a terceiros do que a nós próprios?
Friso desde já que sou a favor da junção dos Municípios de Porto, Gaia e Matosinhos. E, se possível, também da inclusão dos da Maia e Gondomar. Um Grande Porto tem, claramente, mais peso tanto frente a Lisboa como a Bruxelas.
Crêem, tal como Amílcar Correia escreve no seu editorial do Local Público de hoje, que “A reabilitação da cidade e o seu papel no futuro depende da resposta às perguntas de Quayle. E não tenham dúvidas de que isso é bem mais importante do que discutir qual é a competência da Comissão Nacional de Eleições para ordenar a uma autarquia a retirada de cartazes nesta pré--campanha eleitoral!”?
Aproveito para acrescentar que das intervenções ouvidas no Fórum Inner City fiquei com a impressão de que muitos dos palestrantes vivem fechados nas suas redomas de cristal, dentro das suas universidades, lugares afectos ao poder, etc., e pouco ou nenhuma visão tem do actual fervilhar da cidade. E de nada serve expor os custos e o que foi feito no Porto 2001 uma vez desde aí, e até ao Verão de 2008 – quando a Baixa e, por arrasto, o resto do Porto, se recomeçou a reencontrar –, a cidade foi mais ou menos definhando.