De: Daniel Rodrigues - "Ferrovia Nacional, uma e outra vez"

Submetido por taf em Quarta, 2009-04-15 13:57

O país vai entrar em período eleitoral. O que terão os candidatos ao Parlamento Europeu a dizer sobre a Ferrovia Nacional no contexto Europeu, para além do "soundbyte" do TGV? Defenderiam, por exemplo, a alocação dos fundos europeus destinados ao TGV para investimento na Ferrovia Convencional?

Dou uma achega. Neste documento oficial da CP (Orientações estratégicas do sector ferroviário), na página 24, quadro 5:

"Constata-se que, de uma forma geral, a capacidade utilizada fica próxima ou ultrapassa os valores máximos admissíveis de utilização para garantir níveis de qualidade e fiabilidade dos serviços fornecidos, designadamente os índices de capacidade utilizada ficam acima dos 80%, valor superior ao recomendado pela Union International des Chemins de Fer (UIC), destacando-se em particular os troços Alverca – Azambuja, Entroncamento – Lamarosa e Aveiro – Gaia em que se ultrapassam mesmo os limiares de saturação."

A solução? Linha de alta velocidade, exclusivamente. Ninguém pensou em prestar um serviço idêntico ao existente na linha do Norte às populações dos concelhos, por exemplo, de Vila da Feira, S. João da Madeira, Oliveira de Azeméis, Albergaria a Velha. Ou seja, havia problemas ambientais (o texto refere-o) para a quadruplicação Ovar - Gaia. Compreendo. Mas se tivéssemos gente competente, imaginativa, séria, a decidir aperceber-se-ia imediatamente que havia a possibilidade de construir um segundo canal não muito afastado, que permitisse desviar o tráfego de mercadorias, servir essa zona industrial e populacional para aumentar o tráfego total entre Aveiro e Porto, e permitir que a circulação na linha do Norte fosse realizada em segurança. Refiro-me a concelhos com mais de 250 mil habitantes, 2,5% da população nacional, ou, em cálculo TGV, a contribuição destes concidadãos para o projecto é de 192 milhões de euros.

Há muito tempo atrás realizou-se a linha do Vouguinha. em bitola métrica, com serviços irregulares, sem electrificação. Em séculos da história do comboio ninguém olhou com seriedade para a possibilidade de fazer um upgrade a esta linha e tê-la como parte integrante da rede ferroviária nacional?

Cumprimentos,
Daniel Rodrigues

PS: todos os dados são de 2006. Estamos em 2009. Três anos de desperdício em matéria de acção efectiva para resolução dos problemas bem identificados.

PS2: Para quem estiver interessado, aqui está o link para todos os documentos referentes às orientações estratégicas para a ferrovia. A meu ver, um excelente diagnóstico, ênfase errado na solução (concentrada na AV), demasiadas palavras vagas em torno da linha convencional, concretização nula. É pena.