De: Daniel Rodrigues - "Alta velocidade vs Ferrovia Convencional no Prós e Contras"

Submetido por taf em Terça, 2009-04-07 23:37

Interessante debate, infelizmente com um tema demasiado vasto que facilmente se perde nas especificações técnicas.

Queria destacar antes de mais este deputado que fez um excepcional trabalho. Duas tiradas brilhantes; sobre as prioridades o comboio no aeroporto da Ota, mas sobretudo devido a este documento.

Se mais não matasse a credibilidade do projecto, creio que isto o deveria fazer. As únicas duas linhas no mundo inteiro definidas para um perfil de velocidade máxima de 350 km/h são Shangai-Beijing e... Lisboa-Caia. Isto é tremendo. E gostaria de o sublinhar: no *mundo inteiro* as únicas linhas projectadas para terem um perfil de velocidade máxima de 350 km são Shangai-Beijing e Lisboa-Caia. Como vivemos num país economicamente desenvolvido, sem défice, e que não tem que fazer ao muito dinheiro poupado ao longo de anos, é admissível. Para outros países seria escandaloso.

Agora, o que me surpreende ainda mais é a incompetência de quem tem a voz e o peso necessários para denunciar esta situação, quando o governo apresenta, apesar desta velocidade máxima verdadeiramente atroz, a linha Lisboa-Madrid como sendo mista de mercadorias. Não é preciso um curso de engenharia para perceber o evidente: é uma linha mais cara, que para ao mesmo tempo suportar os pesos por eixo dos comboios de mercadorias, e manter o alinhamento específico para permitir as velocidades em consideração, tem imediatamente especificações técnicas muito mais custosas. Idem aspas para os raios de curvatura e declives, que obrigam a que não se possam evitar determinadas expropriações ou movimentos de terra mais caros. Finalmente, a gestão da capacidade na própria linha que é fortemente limitada por composições a diferentes velocidades (talvez o ministro ainda venha apresentar a carta de comboios de mercadorias a 250 km/h). Como é possível esta situação não ser denunciada?

Entretanto, percebe-se que por detrás de toda a retórica continuam a existir dois vectores que conduzem a planificação da ferrovia convencional em Portugal: 1. O autismo deste governo em relação à alta velocidade. 2. o esquecimento completo da cobertura geográfica, que se limitará a Lisboa, Leiria, Aveiro, Coimbra, Porto. Fora disto, não há passageiros, não há mercadorias. E ninguém no debate de ontem fez uma afirmação contundente nesse sentido dizendo: os recursos despendidos na Alta Velocidade, no Aeroporto, numa 3ª travessia do Tejo, fariam muito melhor na construção de vias férreas convencionais que servissem de forma condigna o país.

Noutros tempos, diria "Enfim, é o que temos.". Hoje em dia parece-me mais e mais crítico não calar, persistir em alertar, em mostrar os enganos, em impedir com todas as forças que se comentam erros crassos. E, felizmente, creio que começa a surtir, muito lentamente, efeito. Espero que não pare esta "maioria silenciosa"...

Cumprimentos,
Daniel Rodrigues