De: Daniel Rodrigues - "Infografias"
A infografia do JN é boa visualmente, mas não compreendo bem o objectivo. Para além de erros que é necessário analisar, reforça uma imagem que é preciso contestar incessantemente, a de que o projecto de Alta Velocidade é inequivocamente uma evolução do transporte ferroviário em Portugal. Não, é preciso dizer sem complexos que se trata de um projecto completamente paralelo. A única analogia que encontro que se adequa ao que está a ser feito é que vão ser construídas marinas para iates, sem que existam portos para cacilheiros e petroleiros. Imagine-se investir na marina de Vilamoura, Cascais, Foz do Douro, depois de ter encerrado os Portos de Aveiro, Viana, Setúbal. É disto que se trata, é isto que é necessário compreender.
Era responsabilidade dos jornalistas do JN fazerem uma infografia sobre, por exemplo, o encerramento de linhas, e da quantidade de pessoas que são servidas no território por linha de comboio. Dou uma sugestão: A população dos concelhos com paragens do Alfa Pendular, somada à população das freguesias que são servidas por regionais. Era interessante saber quantas pessoas são servidas por transporte ferroviário. (Se calhar os números não serão positivos para o que defendo, mas estou disposto a assumir o risco).
Em relação a esta infografia:
1. Para começar o Alfa Pendular não entrou ao serviço em 1987. Tentar passar a imagem de que este investimento é mais antigo do que é, é errado. Este investimento, que incluía a renovação da linha do Norte que ainda não está concluída, tem cerca de uma década apenas.
2. A linha Lisboa - Madrid comporta tráfego misto, a de Lisboa - Porto apenas passageiros. Ninguém acho estranho o facto de a velocidade ser superior num caso, e inferior no outro? Refere-se à velocidade máxima, ou à velocidade de serviço? Foi considerado o efeito do tráfego misto na capacidade da linha? Se estiverem interessados, transmitirei alguns dados.
3. Ao ler um menu "transportes ferroviários em Portugal", esperava ver algo semelhante ao menu "TGV em Portugal": onde estão as linhas, os tempos de viagem, a entrada ao serviço ou eliminação de troços dos transportes ferroviários actuais?
São pequenas coisas, mas creio que temos o dever de exigir que sejam bem feitas. Já apontei aqui diversas vezes que os jornalistas têm uma responsabilidade adicional de fazer um bom trabalho, e não trabalho de propaganda. Venham de que área vierem. A atenção em Portugal tem decididamente de virar da Alta Velocidade, que absorve todo o pensamento político, mediático e intelectual, para o transporte ferroviário.
Cumprimentos,
Daniel Rodrigues