De: F. Rocha Antunes - "Empresários, políticos e nós"
Meus Caros,
A facilidade com que se julga, por grosso, um grupo de pessoas é inversamente proporcional à qualidade desse juízo. Porque não há, felizmente, empresários todos iguais, como não há políticos todos iguais, nem escritores em blogues todos iguais. Devemos julgar os actos praticados, mas evitar classificações definitivas, porque senão as pessoas nunca podem mudar para melhor. Isto é válido para toda a gente, mas especialmente para os que acreditam na doutrina do Perdão (sim, Tiago, é contigo eheh).
Em todas as áreas de actividade humana há gente que não desiste de fazer as coisas bem, há gente que não se cala para evitar desagradar a alguém quando sente que é importante não calar alguma situação, e há gente que procura sistematicamente fazer melhor aquilo que é suposto fazer. O que é mais difícil, e aqui no blogue isso é claro, é percebermos como conciliamos as nossas diferentes facetas. Porque todos nós somos várias coisas ao mesmo tempo, e a articulação dessas facetas nem sempre é pacífica.
Eu sou empresário, promotor imobiliário, morador no Centro Histórico, Liberal, Pai, Filho e mais uma dúzia de coisas que me caracterizam neste momento. Não corrompo ninguém, cumpro as regras legais todas, incluindo pagar todos os impostos, tenho o triplo do trabalho de toda a gente a escolher os prestadores de serviços que comigo desenvolvem pontualmente a sua actividade, seleccionei as pessoas que trabalham na minha empresa por critérios objectivos de competência, participo activamente na discussão dos temas que me importam como cidadão e enquanto morador em Miragaia, não deixo que sejam os outros a definir por mim as coisas que considero essenciais, o que implica que tenho que trabalhar mais e melhor para conseguir que isso assim seja, não paro a minha busca de formas melhores de fazer o que faço, envolvo-me nas associações profissionais que considero que fazem sentido, trabalho das 9h30 às 18h00, e acho que não faço mais do que a minha obrigação.
Cada um de nós pode fazer sempre bem mais do que dizer mal e queixar-se do mundo. As coisas depende muito mais de nós, individualmente considerados, do que a nossa preguiça costuma permitir que se reconheça. Claro que se acharmos que nada podemos fazer porque a tarefa de melhorar as coisas é homérica, resta-nos resmungar, encolher os ombros e ir à nossa vidinha, ou seja, fazermos tudo da maneira em que não acreditamos e que contribui decisivamente para que o mundo não seja como queremos. O maior dos pecados, nesta matéria, é mesmo o pecado da omissão.
Francisco Rocha Antunes