De: Cristina Santos - "Esses crápulas que devem pagar a crise..."
Será que a opinião pública, que tanto enxovalha os empresários deste país, considera que os empresários corrompem por prazer? Que têm gosto em despender 2% ou 5% conforme os seus projectos para pagar a um sistema criado para o efeito, gasto este que não é registado, que não fica titulado como prejuízo, gasto que pode inclusive originar outros gastos por incumprimento com o dito sistema, terá o empresário gosto nisto?
Será que a opinião pública acha que o empresário que emprega se congratula a verificar quem ganhou concursos públicos e a tentar trabalhar para esses vencedores, que pagam uma miséria aos subcontratos, que fecham os olhos às legalidades depois de terem recebido milhões?
Será que a opinião deste país percebe que o excesso de funcionalismo público é um exército do Governo que, enquanto existir e estiver satisfeito, não abre alas a mudanças ou revoluções que possam pôr em causa os seus lugarinhos e a corrupção continua?
Será que a opinião pública que tanto exige dos empresários e dos empreendedores percebe que não existe esquerda nem direita, que os elementos estão dispersos pelas diversas alas do sistema, para que nunca percam?
Será que a opinião pública que maltrata, que desonra os empresários, investidores e empreendedores deste país, entende que não é possível ser empresário em Portugal sem corromper? Que podem passar vários anos, mas que à medida que os investimentos e as empresas crescem o sistema lhe aponta guias e o empresário ou corrompe, ou se deixa corromper, ou então fecha; e que na crise aumentam fiscalizações, tributações e o mais que possam inventar tudo nesse sentido? E quem diz o empresário diz também o político que inocentemente ainda se possa titular por rigoroso e acima dos interesses.
Será que a opinião pública, tão arauta no seu saber, compreende que chegado a este ponto o empresário olha a equipa que tantos anos levou a formar e pensa que foi um esforço nulo, que ter equipa formada ou corromper é exactamente a mesma coisa, e portanto os trabalhadores não têm valor nenhum?
Essa opinião pública que vai vivendo de salários, que enquanto pagos não deixam adivinhar a crise. Essa opinião pública tantas vezes enganada pelos sindicatos, essa opinião pública que tolera, que considera normal a corrupção e que elege fechando os olhos, essa opinião pública que recebe com 2 pedras nas Finanças os empresários, essa opinião pública, mal esclarecida, cega, que acha que corromper é um acto legítimo do regime, acha que quem corrompe está rico e portanto são os empresários, não os que recebem milhões sem empreender e obrigam à corrupção, que devem pagar a crise deste país, tem alguma legitimidade para falar?
Essa opinião pública que há-de valer-se do Estado quando não houver crápulas. Até lá é insultá-los, crucificá-los se possível e ao fim a opinião pública deve mais uma vez aliar-se a sucessivos governos protegidos pelos investidores de grandes obras públicas e pelo exército de funcionalismo, e reclamar nas ruas que já não há crápulas dispostos a investir neste país.
Cristina Santos