De: Pulido Valente - "A cultura da galeria da Árvore"
Fomos convidados a estar presentes numa sessão sobre a cultura promovida pelo PCP na Árvore na segunda feira passada. Não fui porque me é extremamente penoso ter contribuído, e de que maneira, para a criação da COOPERATIVA DE ACTIVIDADES ARTÍSTICAS ÁRVORE, e ver ao que a fizeram chegar.
Na origem da Árvore C.A.A. estava a ideia de que os galeristas, que nessa altura (1962) ainda estavam na puberdade no nosso país, iriam atacar os produtores de objectos artísticos para os explorar ganhando com o trabalho dos artistas o suficiente para se instalarem com sucesso (nunca se imaginou que viesse a ser tão grande) nesse ramo de actividade. Ora, como os preços de venda da produção artística não podem ser aumentados indefinidamente para satisfazer aqueles intermediários, seriam os artistas quem seria prejudicado pois receberiam menos pelo seu trabalho. Na altura sugeri que a percentagem a cobrar pela Arvore fosse de 15% (menos um bom bocado do que aquilo que se ia começando a fazer aqui no país) e que para que a Árvore pudesse vingar como interface entre artista e comprador os sócios produtores de objectos artísticos deveriam trabalhar em exclusivo com a Árvore. Não deveriam por isso deixar-se levar pelo canto da sereia dos incipientes galeristas.
Os "artistas" tinham mais que fazer e logo que os brito apareceram foram meter-se na boca do lobo e nunca quiseram funcionar como cooperativa. Agora as galerias cobram 50% do valor de venda afixado, o que cria uma sobrevalorização das peças ou uma considerável redução nas verbas recebidas pelos criadores. A Árvore também cobra 50%.
Ora acontece que o PCP passa a vida a dizer que defende os interesses dos trabalhadores mas de há décadas para cá tem uma forte presença na Árvore e nunca se viu que se tenha interessado em promover o funcionamento da Árvore como cooperativa. Preferiu entrar no jogo, aburguesar-se e fazer da Árvore um clube, tipo casa de chá sem chá.
Há dias fui à rua das galerias ver uma exposição de um dos sócios fundadores da Árvore. Muito boa. Eram desenhos e cinco quadros. Um tríptico, 90 mil Euro, e os outros mais pequenos um dos quais a 60 mil os outros não aprecei. Parece que o grande e dois dos outros foram vendidos num total 180 mil Euro (considerando que foi feito desconto de 10%). Se o artista recebeu 90 mil teve de dar ao fisco 5%, isto é, 4. Daí que nem metade da verba alcançada recebeu. Acontece que o pintor faz um ou dois quadros por ano e a galeria faz, com maior ou menor sucesso, exposições todos os dois meses e vai vendendo o que tem no seu acervo.
Por isso digo: bravo PCP! Viva o capitalismo!
José Pulido Valente