De: F. Rocha Antunes - "Fazer mercado hoje"

Submetido por taf em Sexta, 2009-01-30 16:11

Meus Caros,

Os ventos e as modas fazem parte da vida, e com o vendaval que vai nas economias de todo o mundo a moda de dizer mal do mercado até já chegou aqui ao Blogue. Eu acho muito bem que se diga mal do que está mal, mas tenho a mania de achar que só isso não chega. Se nós ganhássemos alguma coisa com a maledicência éramos um dos países mais ricos do mundo. Não podemos resignar-nos e aceitar que é uma fatalidade empobrecermos generalizadamente. Os excessos do mercado vão ter de ser pagos por todos, mas convém não esquecer que também todos beneficiámos desses excessos. Agora importa é ver o que podemos fazer de diferente para conseguirmos que o mercado (qualquer outra solução não passa de ficção) aprenda a viver com regras mais sustentáveis.

O sistema em que nós, os Portugueses, temos vivido é um híbrido perigoso a que eu chamo de capitalismo sem dor: queremos ter todas as vantagens e a liberdade individual do sistema capitalista mas recusamos pagar o preço das más escolhas, das opções erradas e das burrices que fazemos. Isso acabou, agora a factura é pesada e vai tocar a todos. Não quero entrar em detalhes técnicos complicados, mas o que cai agora em cima de todos é a soma das ineficiências acumuladas que foram sendo criadas e consentidas por todos nós. O dinheiro que agora jorra para cima de todas as dificuldades vai ter de ser pago, e só vai ser pago se formos capazes de voltar a gerar riqueza. Portanto, se alguém quer genuinamente resolver esta situação tem de se preocupar com a criação generalizada de riqueza, a única forma conhecida de evitar a pobreza endémica.

Importa saber o que é que nós, individualmente, podemos fazer. A minha proposta é que utilizemos regras de mercado aberto naquilo que depende de nós. Já aqui escrevi sobre isso em tempos. Nós somos capazes de comparar eficientemente o preço de um televisor ou de uma carteira, mas somos muito pouco eficientes a contratar a maior parte dos serviços que precisamos profissionalmente. Sempre que não fazemos uma selecção competitiva de qualquer fornecimento estamos a premiar a proximidade e não a competência. Eu gosto, como toda a gente, dos que me são próximos mas sei que não devemos confundir as necessidades dos que nos são próximos com as necessidades do trabalho que tenho de desenvolver. A obrigação da procura da eficiência é muito séria e tem de ser assumida como prioritária.

Se fizermos aquilo que depende apenas de nós podemos de facto mudar o estado das coisas. A opção é clara: ou somos proactivos ou ficamos entretidos a dizer mal de tudo e de todos. Somos sempre o resultado das escolhas que vamos fazendo.

Francisco Rocha Antunes
Gestor de Promoção Imobiliária