De: Cristina Santos - "Early S. João"
Continuava à espera que os grandes blogues do Porto se pronunciassem sobre a nossa Festa de São João, esperava que os blogues Lisboetas a criticassem, mas nem uns nem outros se fizeram ouvir porque não houve incidente digno de registo.
Esperava apupos à Casa da Música e à demonstração de mais uma valia do diamante pedrado, mas nada, ninguém referiu que afinal aquelas lombas em torno do nosso monumento são réplicas dos recintos dos festivais de Verão, têm a mesma inclinação que os lameiros de Paredes de Coura e semelhante repercussão acústica.
Esperava que alguém elogiasse o magnífico postal que foi vendido a todo o país, mundo e arredores, um Porto iluminado, um Porto bem enquadrado digno de referência em qualquer roteiro internacional. Um Porto de fazer inveja, um Porto que convidou o país inteiro a visitá-lo.
Esperava encontrar e não encontrei, mas eis que no Abrupto aparece a taciturna referência à festa antiga, como se fosse uma crítica à nova festa:
«Era a noite em que se podia fazer tudo e não havia polícia nas ruas. (Antes do 25 de Abril era também uma noite aproveitada para distribuir panfletos, a que a PIDE estava cada vez mais vigilante embora evitasse dar nas vistas porque com a multidão nada era seguro...).
O ambiente democrático da rua, em que ninguém se livrava de levar com o alho na cabeça, e onde completos desconhecidos trocavam cumprimentos e piropos, revelava o carácter muito especial da única cidade verdadeiramente "burguesa" do país. Trabalhava duro durante o ano e depois tinha a sua Saturnalia, que tomava tão a sério como o trabalho. No Porto, não havia (e não há) essa coisa de "bairros populares" versus "avenidas novas", nem nobres marialvas e fadistas que depois dos touros vão para as "casas de tabuinhas" conviver com apaches e severas, isto para usar os nomes antigos e poupar os ouvidos sensíveis. No Porto todos, menos os "ingleses" que nunca se viam, estavam na rua. Ora isso não cabe na televisão, só num IMAX e mesmo assim transborda.
Já há uns anos que lá não estou no S. João. Espero que tudo continue assim. Espero.»
Não sei se continua assim, o São João já não é só dos Portuenses, é do portugueses em geral e dos ingleses incluídos. Como se pode ver o que não faltaram foram pessoas e martelinhos, a festa da RTP limitou-se a repercutir o som e a beleza da cidade pelo país, a Casa da Musica, o nosso elixir, juntou-se à festa e provou ser um espaço único sem martelos mas com violas e baterias que serviram aqueles que já não suportam grandes embates no cérebro. E o Porto já não trabalha arduamente todo o ano, o Porto sabe que paga o futebol do país e também pára a ver, já não se encontram cá bairrismos ou conspirações, o Porto sabe quanto vale e aquilo a que tem direito.
Por isso era bom que desistissem de prender o Porto ao século passado, de querer encontrar no Porto o ambiente do antes do 25 de Abril, porque o Porto tem novas lutas, novo sangue, o Porto nunca se renderá à redoma onde o querem prender.
Cristina Santos