De: JA Rio Fernandes - "Negócios do Parque da Cidade"
Fui um dos muitos que critiquei publicamente o acordo feito pela Câmara de Nuno Cardoso Fernando Gomes para o alargamento do Parque da Cidade até ao mar (em vista das contrapartidas para os proprietários), assim como manifestei a preocupação pela forma apressada como muitas das obras do Porto 2001 estavam a ser lançadas e concretizadas. Mas (sim, porque há um muito grande mas), muito pior que isso foi a forma como Rui Rio construiu uma imagem de “pureza” e honestidade (que é um pressuposto e não tem de ser aclamada nem provincianamente reverenciada), sobre uma cidade parada.
Em nome dessa táctica, “congelou” uma política cultural essencial ao desenvolvimento urbano (como Guimarães e Santa Maria da Feira mostram bem), declarou que não existiria construção no Parque da Cidade (com naturais consequências face aos compromissos assumidos), abriu uma guerra primária ao FC Porto (sem quaisquer vantagens, senão para a sua popularidade no país em geral e particularmente em Lisboa), parou as intervenções na Baixa (quanto tempo esteve por fazer a Praça de Carlos Alberto e quanto tempo demorou a chegar o eléctrico da Baixa?), assim como na frente do Parque da Cidade (quantos anos esteve desocupado o Edifício Transparente) ao serviço da vontade de ridicularizar a acção da Porto 2001.
Mas as máscaras foram caindo.
- - Os tribunais parecem não ver nada de especialmente grave nas relações entre a Câmara e o F.C. Porto, mas é público e notório que houve tratamento especial do município para com o Boavista (por sinal o clube de Rui Rio), com votação em Assembleia Municipal de uma alteração à proposta do PDM que favoreceu os interesses do clube.
- - Ao contrário do que foi dito (e rendeu votos em declarações ampliadas por associações bem intencionadas), é publico e notório que o Parque da Cidade se está a esvaziar de verde, com pistas para aeronaves, piscinas para o Sport Club do Porto e agora edifícios de luxo na frente da Avenida da Boavista.
- - A Câmara passou a fazer “animação” no lugar de promoção cultural (valha-nos Serralves, a Casa da Música, Miguel Bombarda e Cândido dos Reis).
- - Proclamou-se o “regresso à Baixa”, mas desapareceu o CRUARB anos antes de ser lançada a SRU, agora fechando a FDZH (com comissão liquidatária que pelos vistos vai gerir verbas europeias!...) sem substituto que se conheça com acção de alcance idêntico.
- - E nem vale a pena lembrar as constantes birras (em que é mestre), a propósito do metro na Boavista (com obras para rallies já feitas por conta da linha que haveria de vir, apesar da nega do Governo de Santana Lopes!), os recuos do Shopping do Bolhão (onde graças ao Ministério da Cultura parece que o bom senso pode imperar), os desatinos com a “erradicação” dos arrumadores, ou o negócio da demolição das Torres do Aleixo (para serem substituídas por um condomínio fechado?).
Não, não vale a pena agora pensar nisso. Sobre estes assuntos remete-se cada um para a sua reflexão e orientação de voto no final do próximo ano. Agora, o que vale a pena mesmo é pensar se os milhões que vão ser pagos (em terrenos, capacidade edificatória e cash) não poderiam ser melhor gastos.
Se nas opções e nas realizações as críticas eram muitas a esta Câmara, restava a Rui Rio a ideia de competente economista. Afinal, a meu ver (e é certo que não sou economista), parece que talvez seja bom em poupanças, mas além de colocar a cidade num estado de anemia, desvitalizada e desmotivada para produzir riqueza e contribuir um pouco para a infelicidade aos seus residentes e visitantes, faz agora um péssimo negócio. Para evitar uma área construída no Parque da Cidade que não deve ser superior à da pista de aviação e piscina do Sport, a Câmara dá dinheiro e terrenos no valor de 44 milhões de euros e ainda deixa construir mais no (intocável???) Parque da Cidade, quando esse dinheiro podia seguramente ser melhor gasto, por exemplo, no Parque Urbano Oriental, na qualificação da “estrada marginal” entre a Ponte D. Luís e o Freixo, ou para beneficiar o pavimento das ruas das Flores e Mouzinho da Silveira de uma forma que permitisse prolongar a linha do eléctrico do Infante.
Isto só para falar em obras e não fazer paralelo com a acção do deputado do PND da Madeira… é que 44 milhões bem divididos (pelos 233.000 residentes do Porto – estimativas do INE para 2005), correspondem a 172 euros a cada cidadão do concelho do Porto! O que por certo vinha mesmo a calhar para o Natal.