De: Maria Augusta Dionísio - "Ordenados e Aleixo"
Sobre a questão dos ordenados principescos, acho lamentável o triste espectáculo proporcionado pelo Presidente da Câmara, na última reunião do Executivo, ainda por cima acompanhada de vídeo montado à maneira da maioria. Concordo, por isso, com a opinião já aqui apresentada: se a Câmara tem todos os elementos, porque não desmascara o vereador Rui Sá. Utilizar a reunião de Câmara para lavar roupa suja, acho inaceitável e degradante para o órgão em causa. Afinal, quantas pessoas tiveram a mesma oportunidade no passado? Abrindo-se este precedente, todos os demais portuenses passariam a ter esse direito.
Aliás, acho incrível que neste caso o Dr. Rui Rio tenha procurado forçar a intervenção dos quatro magníficos, mas tudo fez para limitar ao máximo a intervenção do público. Se os visados pelo vereador Rui Sá se queriam defender têm, pois, duas possibilidades: nos tribunais ou na reunião do Executivo, no período reservado à intervenção do público. Ou melhor, de acordo com as tais regras introduzidas por Rui Rio, para limitar a intervenção do público, estes senhores e a irmã do vereador Castelo-Branco não podiam intervir, pois iriam versar uma tema pessoal e não colectivo.
Ainda sobre este assunto, importa acrescentar mais um dado. De facto, as empresas municipais são um meio fantástico de empregar "boys", não apenas no Porto, diga-se em abono da verdade, mas lamente-se, em abono do atraso do nosso país! Na DomusSocial, por exemplo, há alguns casos paradigmáticos. O cargo ocupado pelo ex. Secretário de Estado da Juventude do governo de Durão Barroso, Dr. Mário Jorge Rebelo é exemplo disso. Não faço a mais pequena ideia de quanto aufere. Apenas sei que depois de sair do Governo não ficou no desemprego por muito tempo! É pena que os Centros de Emprego não funcionem de forma tão ágil para o comum do cidadão. Outro exemplo, na mesma empresa, é do sr. Rui Rebelo. Ocupa hoje, na DomusSocial, um lugar importante no atendimento ao público, revelando grande arrogância no atendimento aos moradores dos bairros. De onde veio este senhor? Que habilitações possuiu? Sei, apenas, que passou da Assembleia de Freguesia de Lordelo do Ouro, eleito pelo PSD no anterior mandato, directamente para esta empresa municipal. Sei ainda que é amigo de Rui Rio, com quem privava, em tempos idos, no snack-bar Convívio no Bom Sucesso.
Sobre o tema do Aleixo, noto que o indeferimento da Providência Cautelar deixou muito boa gente eufórica. A começar pela Câmara que se apreçou a publicar a notícia no pasquim electrónico que possui na net. Mais uma vez, lendo as noticias publicadas nos meios de comunicação disponíveis na Internet, e lendo sobretudo os comentários, fiquei arrepiada com aquilo que algumas pessoas escrevem a respeito do seu semelhante. Fiquei siderada com sugestões como aquela, no jornal Público, que pedia a demolição do bairro com os moradores dentro das suas casas. Volto a afirmar o que escrevi, há dias, sobre o massacre da Candelária, no Rio de Janeiro, em 1993. Perante o assassinato hediondo de algumas crianças que viviam do crime, eram marginais, e "poluíam" visualmente aquela cidade, houve muito boa gente que concordou com o acto dos policiais e considerou que era aquela uma forma eficaz de se livrarem daquele problema.
Também na nossa cidade, não faltou quem aplaudisse as palavras de Rui Rio quando este falou em exterminar os arrumadores, ou, mais recentemente quando disse, a respeito dos pobres, que era preciso acabar com eles, antes que eles acabassem com os ricos. Ora, mas em que raio de sociedade vivemos nós? Para os que alegremente deram vivas à decisão do Tribunal, em primeira instância, uma pequena nota: OS MORADORES DO ALEIXO NÃO VÃO BAIXAR OS BRAÇOS! Aliás, eu, que estive ontem presente na reunião organizada pela Associação de Moradores para discutir este assunto, ouvir as explicações do nosso advogado e decidir o que fazer, fiquei com a certeza de que muita água vai ainda passar por debaixo desta ponte. Por isso, não julguei que a nossa sentença de morte já foi decretada sem apelo nem agravo!
Na reunião de ontem, ficamos a saber duas coisas: a nossa Associação, contrariamente ao que tentou a Câmara, tem legitimidade para apresentar esta e todas as acções judiciais que bem entender. Caiu assim por terra o primeiro grande argumento da autarquia, apoiada pela sociedade de advogados principescamente paga com dinheiros do erário público (quando a CMP tem departamento juridico, com juristas - mais um exemplo dos "jobs for the boys") que a Associação de Moradores não tinha legitimidade para apresentar a providência. Uma outra coisa: o juiz abre a porta a todas as acções que consideremos convenientes interpor no futuro. Pois, segundo a sentença, estamos ainda perante uma fase embrionária do projecto. Não se sabe, por exemplo, se existirão interessados no concurso. Não se sabe como se pronunciara o júri do mesmo. Não se sabe, depois de escolhido o parceiro, pela Câmara, se o mesmo será ratificado pela Assembleia Municipal. Ora, estamos perante inúmeros actos administrativos, todos eles passiveis de serem sindicados.
Por isso, como estamos no pais das providências cautelares, expressão de Rui Rio, será de esperar que a nossa Associação, com o apoio dos moradores (que democraticamente nesta última reunião assim o decidiram), faça o que bem entender na defesa dos nossos interesses. Socorrendo da opinião de Rui Sá expressa hoje no JN, o que aqui está em causa é saber se os moradores do Aleixo não têm direito a viver nesta zona, onde vivem há mais de 30 anos. Trata-se de uma questão política, de facto, mais do que jurídica. Mas o que nos empurra para os tribunais é o dr. Rui Rio e a sua arrogância. Com os moradores do Aleixo não dialoga, mas quis dar a oportunidade aos seus amigos de se defenderem publicamente das acusações do comunista!
Maria Augusta Dionísio, moradora no Aleixo.