De: Rui Encarnação - "Consequências"
Ao contrário do que é típico no Porto, estamos a viver uma época sem consequências. E inconsequente.
1- Não creio que o metro na Avenida da Boavista, ou qualquer outro transporte púbico moderno – que não os tradicionais autocarros - seja um mal em si mesmo. Pelo contrário, satisfaria as necessidades de muita e muita gente que se dirige à Foz, e de muita gente que nela circulava e a utiliza (quer para cima da Fonte da Moura – com todos os serviços que lá existe – quer para baixo desta – onde vive gente e existe a praia, o Parque da Cidade, etc...). Agora que é inaceitável que se façam pretensas obras de requalificação na Avenida sob pretexto de uma linha de metro que não existe, ai isso é; como inaceitável é que quando a CMP vai ser obrigada – ou deverá – repor o custo que a Metro do Porto suportou com essas obras que haja e se tirem consequências desse acto.
2- Que é facto assente a necessidade de intervenção no Bolhão não há dúvidas. Agora que se pretenda vender o Bolhão e travesti-lo de centro comercial a uma qualquer empresa, que se faça um concurso e se eleja um vencedor sem assegurar que todo o dinheiro, tempo e meios gastos tiveram utilidade, é, claramente, algo de absolutamente inaceitável. E algo que tem de ter consequências.
3- Surpreendentemente, e para além das questões respeitantes à discussão da essência destes dois problemas (escolha da linha do Campo Alegre – de extrema importância – reformulação do projecto do Arqtº Massena ou adopção de outros) é inaudito que ninguém ouse exigir de quem gere a CMP os comportamentos e atitudes que se impõe. Em primeiro lugar que se explique, e explique de forma cabal e à moda do Porto (isto é, ponto por ponto e tudo muito bem explicadinho), as razões que levaram a serem praticados actos e realizadas acções e obras que se traduziram já em prejuízo para a CMP e que poderão importar ainda outros danos. Em segundo lugar que se assumam, por quem gere a CMP, as consequências dos actos praticados.
A questão parece ser de somenos, no confronto com a essência e relevância das questões em discussão, mas na verdade não o é. Se pensarmos bem, pelo menos nestas duas decisões a CMP – nesta gestão – agiu sozinha e por sua livre e teimosa vontade, não dando ouvidos, nem querendo ouvir, ninguém. E se o fez assim nestas questões, também o fez em muitas outras, como voltará a fazer. Por isso, esta forma de actuar, e de não assumir as responsabilidades nem extrair consequências dos actos, só permite que o tempo passe e nada se resolva. E o tempo, esse tem um valor que não é compensável por perequações ou outros.