De: João C. Costa - "Magalhães e a Propaganda"
Sobre a reportagem que viu na RTP 1 (não assisti, mas para o que vou dizer é irrelevante), digo-lhe que não é vergonha Tiago, não se trata disso. Sobre o estado do jornalismo, estamos de acordo. Aliás e para não me estender muito, sobre isso aconselho a leitura atenta do blog "Hotel das Ideias" do meu amigo Pedro Bessa.
A questão é que não entendo porque é que a propaganda o irrita tanto? É a terceira vez que noto isso. A democracia, desde o seu início, sempre se baseou na propagação da palavra. A retórica sempre foi uma virtude. A capacidade de convencer os outros a acreditar no mesmo que nós é a base disto tudo. Apregoar, é propagandear. E de repente, ouço quase diariamente, e com toque pejorativo, que este Governo é o mestre da propaganda. Não vejo sinceramente, qual o mal disto. Também tenho que ouvir diariamente muita propaganda, até profissional, de assuntos desagradáveis. Até já tive o Santana Lopes como primeiro ministro por incrível que agora me parece e este fenómeno sim só pode ser explicado pela mestria da retórica e da propaganda. O que posso é aceitar que aos olhos de cada um isso possa ou não ser desagradável dependendo da nossa discordância com o tema apresentado.
Mas, e como contraponto ao seu desabafo, aconselho a leitura da coluna de opinião da Helena Garrido no Jornal de Negócios de hoje. Sobre o valor, o mérito ou a falta dele no programa de um computador para cada criança no primeiro e segundo Ciclos.
A este artigo bem eloquente, acrescento apenas duas ou três notas:
Sobre o Magalhães ser ou não fabricado em Portugal, meu caro Tiago, eu próprio trabalho numa multinacional americana que produz artigos na área hospitalar e ortopédica, "made in Portugal" com mais de 60% de componentes asiáticos. Maximizamos o lucro e sobretudo o valor acrescentado e deste modo ao PIB. Quando tratamos da certificação pelo TUV ou quando temos que responder a reclamações de clientes, os produtos, do ponto de vista legal, são fabricados em Portugal. Sou até capaz de jurar, que desde os automóveis de tecnologia alemã até ao arroz, só as alheiras de Mirandela e afins serão integralmente produzidos em Portugal. Isto responde à sua questão, julgo eu.
Sobre a competitividade do produto e a capacidade de ser vendável noutros mercados (não está neste post mas num seu anterior), muito me orgulho de lhe dizer o seguinte: desde há alguns anos que me debato com a orçamentação de produtos em que o custo da mão-de-obra asiática nos arrasa. Arrasa? Não, para meu espanto, não. Das primeiras vezes, achei que me tinha enganado nas contas mas depois percebi que há um factor que nos coloca em bom nível: a produtividade. A nossa produtividade/qualidade iguala o valor da mão-de-obra asiática! E os lucros tem-se encarregado de provar que não me tinha enganado. Senão fosse assim já tínhamos fechado as portas, com certeza... Sendo montado cá, e apenas montado, significa que a mão-de-obra representará 2.56 - 2.60 euros de montagem por máquina, o que significa na minha opinião que este produto, teve a abordagem correcta na sua industrialização, montado cá com componentes asiáticos.
Portanto, Tiago, não se irrite, porque senão tenho que concordar com o que escreveu Rio Fernandes há dias: já se começam a notar os tiques laranjinhas.
Um abraço,
João C. Costa
joao.ccosta@clix.pt