De: Alexandre Burmester - "Cheias estatísticas"
Pretendo trazer aqui ao conhecimento geral mais um exemplo da gestão da “Coisa Pública”.
Há uns anos atrás, quando do exercício da GaiaPolis, encomendou esta um estudo sobre as cheias do rio Douro. O estudo então apresentado passou a ser usado pela Câmara de Gaia e pela APDL, como a cartilha que determina e orienta a ocupação dos espaços dos edifícios em zona ribeirinha.
Não pretendo estar a dizer mal nem do estudo nem de quem o fez, porque ainda por cima este estudo, embora tendo aplicabilidade pelas entidades antes referidas, encontra-se no segredo dos Deuses. Não o entregam nem mostram, apenas se limitam a referi-lo. Engraçado é também perceber que a Câmara do Porto não o aplica, não sei se por acharem que o estudo sendo de Gaia não interessa, se por acharem que o mesmo é completamente despropositado, ou se o rio afinal não é o mesmo em ambas as margens (Tenho a impressão que a principal razão deve ser uma combinação destas três).
Aparentemente este Estudo deve versar sobre muito assunto, infelizmente não se conhece, mas sei que em conclusão aponta uma cota de cheia do rio Douro, a que intitula de “cota estatística de provável cheia” para valores completamente imbecis. A prová-lo envio a imagem em anexo que exemplifica o que aconteceria se essa cota estatística se cumprisse. Como a imagem vale por muitas palavras, deixo ao critério dos leitores a conclusão óbvia.
Ou ainda mais realista
Não sei para que servem as marcas das cotas de cheias que povoam as duas margens do Douro dos últimos 100 anos, e que apontam em tempos idos, e sem as barragens do Douro, as maiores cheiras cerca de 3 metros abaixo, e as dos últimos anos com 6 abaixo. Mas vá-se lá saber o que faz uma “cota estatística”. (Pior mesmo seria um Tsunami ou um tremor de terra estatístico.)
Fantástico é entender que no meio desta inteligenza, o que fazem os burocratas de meia tigela que povoam as entidades que dão pareceres em projectos, e que os chumbam por falta de saídas de emergência em caso de cheias. (Ainda por cima em projectos já aprovados pela Autoridade Nacional de Protecção Civil).
Eu até fiz uma proposta alternativa, mas não aceitaram…
Em conclusão, os investimentos que já são parcos tendem a esmorecer com estas atitudes. A paciência de quem atura estes badamecos é que não pode esmorecer porque se por um lado tem que trabalhar (alguém tem que lhes pagar o salário), por outro tem a obrigação de os ir denunciando.
Melhores dias virão. Tenho a certeza.
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Nota de TAF: ainda bem que eu ontem já me fui preparando e fui investigar que embarcações existiam disponíveis... ;-)