De: Luís Gomes - "Mais um quarteirão, nova desilusão"

Submetido por taf em Terça, 2008-08-19 23:05

Quem der uma vista de olhos pelo último número da revista Municipal do Porto, na secção que dá conta do trabalho desenvolvido pela SRU, até ficaria em crer que a obra está a todo o vapor. De facto se elaborássemos uma equação onde os taipais fossem a variável principal, diríamos que a reabilitação estava imparável. Mas existem algumas incongruências:

- Infante: "Trata-se de um quarteirão que se encontra praticamente reabilitado." Portanto metade do quarteirão é composto pela frente do Mercado Ferreira Borges e pela fachada do Palácio da Bolsa. Em frente ao Palácio da Bolsa encontram-se inúmeros prédios em visível estado de degradação compondo por isso 1/4 do quarteirão. Fica como está? Ou querem ver que pelas contas da Câmara esses prédios fazem parte de um outro hipotético quarteirão? Possivelmente o quarteirão do Infante para as contas oficiais são a meia dúzia de edifícios que ficam de frente para o Ferreira Borges.

- Cardosas: "As sondagens geotécnicas comprovaram que existem condições favoráveis à criação de um parque no «miolo» do quarteirão, onde decorrem as demolições." Mas não era para estar pronto no primeiro semestre de 2008? Ainda estão a estudar a hipótese da instalação de um parque de estacionamento? Porquê? Porque só assim escritórios e hotel terão realmente atractividade..
Quanto às estimadas 54 habitações possíveis, a formula parece ser a mesma de Carlos Alberto: a sociedade promotora reconstrói, procede à venda pelo seu respectivo valor de mercado, sendo que uma parte do valor reverte para a Sociedade de Reabilitação. Volto a insistir no mesmo ponto, que me parece essencial: não basta recuperar e criar investimento.

Aos preços do Pateo Luso em Carlos Alberto estimados pelo site da SRU: "Na primeira fase foram disponibilizadas 8 fracções para habitação e 2 para comércio, com um desconto entre 5 ou 10 000 euros em preços que variaram entre os 100 mil euros e 250 mil euros. As 8 fracções da primeira fase foram já todas vendidas, os 2 T0, 3 T1 e 3 T2, estando ainda disponíveis os 2 escritórios(...)" e continua concluindo: (...) "Os jovens serão, maioritariamente, os próximos habitantes deste novo empreendimento, inteiramente reabilitado, no coração da cidade." (...).

Portanto um jovem casal, possivelmente com um filho adquire um andar de tipologia 2 na Baixa por +/- 200 mil euros (fazendo uma estimativa a julgar pelo tecto máximo descrito no site ). Acreditam? Só se algum deles tiver como a publicidade diz, um pai rico, porque custa-me a crer que existam jovens a dar os valores pedidos a preços de mercado destes imóveis. Acresce a tudo isto que, se o Plano Aleixo for avante, os promotores terão de cumprir a quota de habitantes do Aleixo que terão de passar a viver na Baixa. Deste modo as casas por recuperar na Baixa vão ficar ainda mais inflacionadas fruto das sociedades que hipocritamente terão de comprar para alojar novos habitantes.

Acresce a isto o facto de existirem quarteirões a candidatarem-se ao QREN, como o Morro da Sé. Por via deste fundo, 6,9 dos 10 milhões de euros serão contribuições comunitárias. Visto que o consórcio congrega de novo um construtor de obras, gostaria de perceber a qual será o preço de venda do património a reabilitar uma vez que se parte do valor da recuperação é proveniente de fundos comunitários o beneficio tem de ser dos proprietários actuais e futuros e não da SRU ou da construtora.

Assim pergunto a vocês, que tanto falam de mercados e privatizações, de bairros ou de assuntos colaterais, qual é a justeza de oferecer casas na Baixa a pessoas que na sua maioria vivem do rendimento mínimo garantido, e não ajudar os jovens e as jovens famílias a poder morar no Porto, jovens esses que trabalham e contribuem positivamente para a vida económica e social do pais.

Pergunta: onde pára a oposição? Anda a brincar aos mercadinhos, ora do Bolhão e agora tem outro bibelot no Bom Sucesso.

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Nota de TAF: a definição dos quarteirões está aqui.