De: Luís Gomes - "Mais um quarteirão, nova desilusão"
Quem der uma vista de olhos pelo último número da revista Municipal do Porto, na secção que dá conta do trabalho desenvolvido pela SRU, até ficaria em crer que a obra está a todo o vapor. De facto se elaborássemos uma equação onde os taipais fossem a variável principal, diríamos que a reabilitação estava imparável. Mas existem algumas incongruências:
- Infante: "Trata-se de um quarteirão que se encontra praticamente reabilitado." Portanto metade do quarteirão é composto pela frente do Mercado Ferreira Borges e pela fachada do Palácio da Bolsa. Em frente ao Palácio da Bolsa encontram-se inúmeros prédios em visível estado de degradação compondo por isso 1/4 do quarteirão. Fica como está? Ou querem ver que pelas contas da Câmara esses prédios fazem parte de um outro hipotético quarteirão? Possivelmente o quarteirão do Infante para as contas oficiais são a meia dúzia de edifícios que ficam de frente para o Ferreira Borges.
- Cardosas: "As sondagens geotécnicas comprovaram que existem condições favoráveis à criação de um parque no «miolo» do quarteirão, onde decorrem as demolições." Mas não era para estar pronto no primeiro semestre de 2008? Ainda estão a estudar a hipótese da instalação de um parque de estacionamento? Porquê? Porque só assim escritórios e hotel terão realmente atractividade..
Quanto às estimadas 54 habitações possíveis, a formula parece ser a mesma de Carlos Alberto: a sociedade promotora reconstrói, procede à venda pelo seu respectivo valor de mercado, sendo que uma parte do valor reverte para a Sociedade de Reabilitação. Volto a insistir no mesmo ponto, que me parece essencial: não basta recuperar e criar investimento.
Aos preços do Pateo Luso em Carlos Alberto estimados pelo site da SRU: "Na primeira fase foram disponibilizadas 8 fracções para habitação e 2 para comércio, com um desconto entre 5 ou 10 000 euros em preços que variaram entre os 100 mil euros e 250 mil euros. As 8 fracções da primeira fase foram já todas vendidas, os 2 T0, 3 T1 e 3 T2, estando ainda disponíveis os 2 escritórios(...)" e continua concluindo: (...) "Os jovens serão, maioritariamente, os próximos habitantes deste novo empreendimento, inteiramente reabilitado, no coração da cidade." (...).
Portanto um jovem casal, possivelmente com um filho adquire um andar de tipologia 2 na Baixa por +/- 200 mil euros (fazendo uma estimativa a julgar pelo tecto máximo descrito no site ). Acreditam? Só se algum deles tiver como a publicidade diz, um pai rico, porque custa-me a crer que existam jovens a dar os valores pedidos a preços de mercado destes imóveis. Acresce a tudo isto que, se o Plano Aleixo for avante, os promotores terão de cumprir a quota de habitantes do Aleixo que terão de passar a viver na Baixa. Deste modo as casas por recuperar na Baixa vão ficar ainda mais inflacionadas fruto das sociedades que hipocritamente terão de comprar para alojar novos habitantes.
Acresce a isto o facto de existirem quarteirões a candidatarem-se ao QREN, como o Morro da Sé. Por via deste fundo, 6,9 dos 10 milhões de euros serão contribuições comunitárias. Visto que o consórcio congrega de novo um construtor de obras, gostaria de perceber a qual será o preço de venda do património a reabilitar uma vez que se parte do valor da recuperação é proveniente de fundos comunitários o beneficio tem de ser dos proprietários actuais e futuros e não da SRU ou da construtora.
Assim pergunto a vocês, que tanto falam de mercados e privatizações, de bairros ou de assuntos colaterais, qual é a justeza de oferecer casas na Baixa a pessoas que na sua maioria vivem do rendimento mínimo garantido, e não ajudar os jovens e as jovens famílias a poder morar no Porto, jovens esses que trabalham e contribuem positivamente para a vida económica e social do pais.
Pergunta: onde pára a oposição? Anda a brincar aos mercadinhos, ora do Bolhão e agora tem outro bibelot no Bom Sucesso.
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Nota de TAF: a definição dos quarteirões está aqui.