De: António Alves - "É a política, estúpido!"
Não tomem o título como uma tentativa de ofender qualquer dos meus caros co-bloguistas. Longe de mim qualquer intenção nesse sentido. Pretendo apenas demonstrar que, ao contrário da crença do staff da campanha vitoriosa de Clinton contra Bush pai, no nosso caso, não é a economia mas sim a política que está no cerne do problema.
Pedro Vilalão escreve que «o Porto não tem (nem terá)* o mesmo número de oportunidades profissionais que existem em Lisboa». Nesta frase encontra-se plasmada a falta de ambição que nos tem levado ao marasmo e aos "encravamentos" de que tanto nos queixamos.
Estou cada vez mais convencido que o problema do Porto é a menoridade política a que há décadas está votado. A sua representação nos órgãos de decisão não é consentânea com aquela que a sua dimensão económica e demográfica exigiria. Enquanto o Porto (e também o Norte) não se assumir como um actor político poderoso e homogéneo nada será possível e a sua secundarização no panorama nacional continuará.
No actual quadro político viciado em favor da região de Lisboa não haverá nunca "mercado" que na realidade funcione e concorrência entre regiões em igualdade de circunstâncias. Só quando o Porto e a sua região envolvente possuírem capacidades política, administrativa, orçamental (e até fiscal, porque não?) autónomas, para imporem as políticas e os investimentos estruturantes de que necessita, o desejado desenvolvimento sustentado e efectivo deixará de ser uma miragem. Este desiderato não será alcançável com os actuais partidos e representantes políticos. É urgente encontrar novos veículos de conquistar e exercer o poder. O que os cidadãos do Porto devem fazer é tomar o seu destino nas próprias mãos, pôr de lado complexos e preconceitos, e assumir o confronto sempre que ele seja justificado. As elites do Porto devem deixar-se de apenas escrever artigos de jornal, participar em blogues, fóruns e conferências de duvidosa utilidade e partir para coisas mais materiais. Ou são a elite e justificam-no, ou não merecem as prerrogativas que a sociedade generosamente lhes concedeu.
Nada de objectivo existe que possa impedir o Grande Porto de se transformar na urbe mais competitiva e com mais oportunidades em Portugal. Só a sua própria (falta de) vontade o poderá impedir. Não acredito nessa espécie de determinismo sociocultural que impõe a primazia a uns e a secundarização a outros. A questão é primeiro política e só depois económica ou de mercado. Quem quiser continuar a alimentar mentiras piedosas para se auto-iludir que o faça.
* o negrito é da minha responsabilidade
António Alves
P.S.1 - Eu sei que muitos não gostam do exemplo, mas o FCP só se libertou da menoridade quando assumiu o confronto frontal com os poderes fácticos que favoreciam sistematicamente os clubes lisboetas. Hoje é uma potência europeia muito mais valorizada lá fora do que dentro de fronteiras. É muito bom sinal que assim seja.
P.S.2 - Antes que me perguntem, adianto-me: não faço parte da elite; não tenho os meios financeiros e organizativos, nem sequer o prestígio e o reconhecimento social para tal; não sou profissional liberal; sou um cidadão empregado por conta doutrem, com um salário médio para os valores portugueses; estou disposto a contribuir financeiramente e com trabalho para uma organização socio-política que pugne pela alteração deste estado de coisas. Como é óbvio pelo texto acima, não acredito no actual sistema de representação política.