De: Rui Encarnação - "Indústrias Criativas e territórios excluídos"

Submetido por taf em Quinta, 2008-07-24 17:23

Tem piada que, depois de tanta linha e tanta palavra gasta, nas discussões sobre as culturas, os grupos com 30 espectadores e quejandos, tenha pegado a moda da criação como factor de riqueza e de valorização. Será que ninguém percebeu que quando o Dr. Rio aniquilou a Culturporto no seu primeiro mandato, e quando a extinguiu no segundo, e quando reduziu a Eventos a actividade cultural da CMP, mais não fez do que dar uma machadada brutal em mais de dez anos de trabalho e investimento na criação de uma das mais rentáveis indústrias criativas, a do entretenimento? Pois bem, já o estudo da UP que a CMP encomendou aponta exactamente para aí, para a criação e inovação como principais vectores de crescimento e expansão.

Mas esta coerência do Dr. Rio, não se fica pela questão cultural e transvaza para a social. Por isto é que o Dr. Rio achou por bem decidir a demolição do Aleixo sem primeiro falar com os moradores, auscultá-los e procurar obter consensos, e até apoio, junto dos visados, e, também, sem primeiro definir para onde vão e em que condições.

Na parte do dinheirinho já deve estar tudo definido, é por concurso, coisa e tal, com regras já definidas e (até apostava) com concorrentes já bem alinhados e prontos para a corrida, isto se não acontecer mais nenhum caso La Feria ou Bolhão, atento o historial desta CMP na gestão dos concursos. Mas na parte do realojamento, temos o depois vê-se, que alguma coisa se deve arranjar!

Não discuto, para já, o modelo do apoio habitacional a prestar pela CMP, ou seja, se é bairro, se é arrendamento apoiado ou outra modalidade, mas só o cumprimento da palavra dada. A CMP quando alojou pessoas no que era seu não fez um jeito, nem deu uma esmola. Cumpriu um dever legal e constitucional com dinheiro que todos nós cedemos para isso mesmo, ou seja, para que pessoas que não possam, saibam o que é ter um mínimo de condições de vida e para que os seus filhos possam ir à escola, tomar banho, de preferência com água quente, e saibam o que é um WC. O dever não está cumprido e a palavra foi dada. E na terra onde nasci a palavra é uma escritura.

A propósito, lembrei-me de vasculhar os meus arquivos e reparei neste delicioso trecho de prosa:
“A Cidade (através dos seus gestores) tem que ir ao encontro dos territórios de exclusão, para os conhecer, para os descrever, para os diagnosticar, para os humanizar, para os encaminhar, para devolver aos seus actores um dos principais direitos que qualquer cidadão tem: o direito à cidadania. Nos territórios de exclusão, encontramos cidadãos que apresentam uma elevada incidência de comportamentos aditivos em relação às drogas, problemas de álcool, isolamento social, marginalidade, pobreza, auto-destruição, conflito com o exterior, insatisfação contínua e elevada mortalidade (Associação Norte Vida, 1999). A Câmara do Porto tem que ser o garante da infra estruturação de toda a actividade social.”

Como vêem é o Dr. Rio quem dava a solução e definia a forma de actuação em 2005. Esqueceu-se foi de ir ao encontro dos territórios antes de tomar a decisão sobre a vida dos ditos “excluídos”...
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Nota de TAF: um esclarecimento - o estudo em causa não foi realizado pela UP mas sim por um consórcio internacional de empresas (ver página 11 do relatório), nem foi encomenda da CMP, mas sim da Fundação de Serralves (ver página 6) e de outros parceiros, incluindo a Junta Metropolitana.