De: JA Rio Fernandes - "Aleixo"
Os erros podem resolver-se… com outros erros! Foi assim quando se demoliram ilhas (das que ficaram algumas têm belas condições de vida) e se fizeram bairros (anos 40 a 70); foi assim quando se demoliram barracas e se fizeram de novo grandes bairros nos anos 90, junto aos que existiam em Campanhã como em Gondomar e Gaia (a leste da Avenida da República todos ou quase todos).
No Aleixo, todos convergimos no diagnóstico e na vantagem de não se gastar o dinheiro dos nosso impostos, sobretudo em tempo de vacas magras, mas… (pois quase sempre há um mas!), o que se vai fazer, pelo muito pouco que se sabe, é:
- 1- Mais uma parceria público-privada (nada a opor por princípio!), cujos contornos e responsabilidade do público (eleito para defender todos) e do privado (salutarmente movido pelo lucro) não se conhecem (e as experiência do La Féria ou da Tramcrone aconselham a ver com atenção);
- 2- “Espalhar” o “problema” pela cidade, de preferência para longe de nós (a maioria de nós, digo eu, ou seja dos que decidem ou mais influenciam os que decidem), para Campanhã (muitos de S. João de Deus foram infernizar o Cerco do Porto), ou mesmo para Gondomar, como já sucedeu antes e o Presidente da Câmara de lá até mora em Marechal Gomes da Costa e não se importa… De resto, a “promessa” de realojar 20% no Centro Histórico (apenas 20% acrescento eu) diz-nos pouco sobre o local ou locais para onde vai a maioria…
Pois, já sei que pensarão que alguns como eu estão sempre no contra. Olhem que não, estou a gostar de ver obras junto à Rotunda do Freixo e na marginal a leste da Ponte de D. Maria Pia, por exemplo (apesar da altura a meu excessiva dos imóveis) e parece que é desta que avança a tantas vezes prometida requalificação da marginal a montante da Ponte D. Luís. Mas, convenhamos que esta tendência de dar espaço aos mais ricos do lado ocidental, de preferência com vistas para o rio e o mar (quando se fez o último bairro social do lado ocidental?), e alojar os mais necessitados mais e mais do lado oriental, muito receio que vá ter um fim triste para todos, marcado por graves assimetrias espaciais e potenciação da violência e insegurança: a Oeste que se cuidem e que vão fazendo condomínios fechados de redes electrificadas, porque a ausência da mistura social tem consequências graves (e nem é preciso ir ao Brasil para perceber isso).
Esta assimetria, este afastamento, esta cidade dual é a não-cidade, a fuga da mistura que ela por definição representa. O que nos traz de novo ao papel do Estado e à necessidade do nosso dinheiro atenuar a tendência do mercado para reforçar as assimetrias. É para isso, dizem os livros, que serve o urbanismo. Lembram-se que no PDM do Porto, aprovado este executivo, o principal problema identificado foi o da assimetria entre o lado oriental e ocidental? E isto, podendo parecer bom para muitos dos que moram nas Torres do Aleixo (e é obrigatório perguntar um a um porque as pessoas não são números), melhor ainda para os que moram à volta, contribui para a solução. Pois… mas não servirá também para aumentar o problema?