De: Alexandre Burmester - "A solução ou uma de muitas soluções"
A intenção de se tratar do “problema” do Aleixo é uma excelente notícia. É principalmente pelo facto de pelo menos alguém ter se lembrado que existe e que pretende vir a resolvê-lo.
A solução que surge, à primeira vista, é muito simples. Demolir o Aleixo e transportar de novo os seus habitantes para o centro do Porto, até porque se aproveita para voltar a densificar a Baixa. Seria matar dois coelhos com uma cajadada. Nada mais elementar.
Como em Urbanismo, nem para os problemas simples existem soluções simples, para um problema como este do Aleixo, já estou a antever a sua complexidade. Tão elementar e simples, que de uma coisa tenho a certeza, demolir o Aleixo não será uma boa solução. E não é apenas pelo facto de que tal solução nunca terá viabilidade para acontecer. Apenas seria viável se todos estivessem de acordo, se a contestação não existisse, se o Estado de Direito fosse uma realidade, e se o mundo fosse cor-de-rosa. É fácil pensarmos que a solução para um problema passa pela sua inexistência, e o problema que se encontra agarrado ao Aleixo, que é a dependência, o desenraizamento, a segregação e a consequente droga, fosse apagado por uma demolição.
A solução para o Aleixo passa principalmente pelo entendimento que as entidades públicas a envolver tenham na capacidade de diálogo e de concertação com os seus habitantes, porque passará essencialmente por tentar resolver tantos problemas como o número de pessoas que por lá habitam. Não passará nem apenas pela intenção nem por um qualquer regulamento ou Decreto. Os seus habitantes podem ter muitos defeitos, mas de certeza saberão o que querem e terão que ser parte integrante da solução. Se calhar muitos quererão voltar para a Baixa, para a Zona Histórica, ou para qualquer outro sítio, e muitos não o quererão fazer. Terá que haver solução para todos, e a solução se calhar não será a demolição do bairro do Aleixo, mas sim o meio-termo entre a sua reabilitação e demolição.
Espero que neste processo haja o bom senso e a capacidade de vir a concretizar esta intenção de reabilitação, não só do Aleixo, como a integração daquela área com a cidade, com a possibilidade de densificar de novo a Baixa e a Zona Histórica, mas principalmente de reabilitar os seus habitantes com a cidade. Isso passa não por voltar a criar guetos, sejam lá onde forem, mas sim pela sua inserção na cidade no seu todo.
Outra coisa eu também sei, vai levar bastante tempo, e espero que ninguém esmoreça por causa disso.
Alexandre Burmester